Seca

Mudanças climáticas

São transformações a longo prazo nos padrões de temperatura e do clima. Estas mudanças podem ser naturais (devido, p.e., a variações no ciclo solar). Mas desde o séc. XIX que as atividades humanas têm sido o principal fomentador das mudanças climáticas, sobretudo devido ao aumento da queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás e da desflorestação. As mudanças climáticas afetam todos os setores e atividades humanas, com consequências ambientais, sociais e económicas.

As mudanças climáticas são uma ameaça à biodiversidade e são um dos principais problemas ambientais do séc. XXI. Entre as causas e consequências encontram-se:

Causas

Produção de energia: a geração de eletricidade e de calor pela queima de combustíveis fósseis é responsável por uma boa parcela das emissões globais. A maioria da eletricidade ainda é gerada pela queima de carvão, petróleo ou gás, o que produz dióxido de carbono e óxido nitroso, poderosos gases com efeito de estufa que cobrem o planeta e retêm o calor do sol. A nível mundial, apenas cerca de um quarto da eletricidade é gerada por vento, sol e outros recursos renováveis que, ao contrário dos combustíveis fósseis, emitem poucos ou nenhuns gases com efeito de estufa ou poluentes do ar.
Fabrico de produtos: a manufatura e a indústria produzem emissões, principalmente pela queima de combustíveis fósseis para gerar energia para fabricar, p.e., cimento, ferro, aço, eletrónica, plástico, roupa e outros produtos. A mineração e outros processos industriais também libertam gases, assim como a indústria da construção civil. As máquinas usadas no processo de fabricação funcionam muitas vezes com carvão, petróleo ou gás; e alguns materiais, como o plástico, são fabricados com produtos químicos extraídos de combustíveis fósseis. A indústria de manufatura é uma das maiores contribuintes para as emissões de gases com efeito estufa no mundo.
Desflorestação: a erradicação de florestas para dar lugar à agricultura, a pastos, ou por outros motivos, gera emissões. Isto porque, ao serem cortadas, as árvores libertam o carbono que estavam a armazenar. São destruídos cerca de 12 milhões de hectares de florestas por ano. Dado que as florestas absorvem dióxido de carbono, a sua destruição também limita a capacidade da natureza de manter as emissões fora da atmosfera. A desflorestação (assim como a agricultura e outras mudanças no uso da terra) é responsável por cerca de um quarto das emissões globais de gases com efeito de estufa.
Transporte: a maioria dos carros, camiões, navios e aviões funcionam com combustíveis fósseis. O que faz com que o transporte seja um dos grandes responsáveis pelos gases com efeito de estufa, sobretudo emissões de dióxido de carbono. Os veículos rodoviários representam a maior parte, devido à combustão de produtos derivados de petróleo, como a gasolina, nos motores de combustão interna. No entanto, as emissões de navios e aviões continuam a crescer. O transporte é responsável por quase um quarto das emissões globais de dióxido de carbono relacionadas com a energia. E a tendência aponta para um aumento significativo no uso de energia para o transporte nos próximos anos.
Produção de alimentos: gera emissões de dióxido de carbono, metano e outros gases com efeito de estufa de várias maneiras, incluindo pela desflorestação e a limpeza de terras para agricultura e pastagem, consumo por gado e ovelhas, produção e uso de fertilizantes e esterco para a agricultura e uso de energia para o funcionamento de equipamentos agrícolas ou barcos de pesca, geralmente com combustíveis fósseis. Todos estes fatores tornam a produção de alimentos um dos principais contribuintes para as mudanças climáticas. E as emissões de gases com efeito de estufa também ocorrem no embalamento e na distribuição dos alimentos.
Energia nos edifícios: os prédios residenciais e comerciais consomem mais de metade de toda a eletricidade no globo. Como continuam a usar carvão, petróleo e gás natural para aquecimento/arrefecimento, emitem quantidades significativas de gases com efeito de estufa. A crescente procura de energia para aquecimento e arrefecimento, com um maior uso de aparelhos de ar-condicionado, bem como o aumento do consumo de eletricidade para iluminação, eletrodomésticos e dispositivos, têm contribuído para uma subida nas emissões de dióxido de carbono dos edifícios nos últimos anos.
Excesso de consumo: o consumo de energia em casa, a forma como nos deslocamos, o que comemos e quanto lixo produzimos contribuem para as emissões de gases com efeito de estufa. Além, é claro, do consumo de produtos como roupa, eletrónica e plásticos. Uma grande parte das emissões globais de gases com efeito de estufa está vinculada a residências particulares. O nosso estilo de vida tem um profundo impacto no planeta. Os mais ricos têm a maior responsabilidade: os 1% mais ricos da população global combinada responde por mais emissões de gases com efeito de estufa que os 50% mais pobres.

Efeitos

O aumento das temperaturas ao longo do tempo está a mudar os padrões climáticos e a perturbar o equilíbrio da natureza. Tal representa muitos riscos para os seres humanos e todas as outras formas de vida na terra.
Temperaturas mais altas: à medida que a concentração dos gases com efeito de estufa aumenta, o mesmo acontece com a temperatura global da superfície. A década de 2011-2020 é a mais quente já registada. Desde os anos 1980 que cada década tem sido mais quente que a anterior. Quase todas as áreas têm tido mais dias quentes e ondas de calor. Temperaturas mais altas aumentam o número de doenças relacionadas com o calor e dificultam o trabalho ao ar livre. Quando as condições estão mais quentes os incêndios começam com maior facilidade e espalham-se mais rapidamente. As temperaturas no Ártico aumentaram pelo menos duas vezes mais rápido que a média global.
Tempestades mais severas: as tempestades destrutivas têm-se tornado mais intensas e frequentes em muitas regiões. À medida que as temperaturas aumentam, mais humidade se evapora, agravando as chuvas e inundações extremas e causando tempestades mais destrutivas. A frequência e a dimensão das tempestades tropicais também são afetadas pelo aquecimento do oceano. Os ciclones, furacões e tufões alimentam-se da água quente na superfície do oceano. É frequente estas tempestades destruírem casas e comunidades, causando mortes e enormes perdas financeiras.
Aumento da seca: as mudanças climáticas afetam a disponibilidade de água, tornando-a mais escassa em mais regiões. O aquecimento global agrava os períodos de seca em regiões onde a falta de água já é comum, e leva a um risco maior de secas agrícolas, afetando plantações, e a secas ecológicas, aumentando a vulnerabilidade dos ecossistemas. Os períodos de seca também podem causar tempestades destrutivas de areia e poeira, que podem mover biliões de toneladas de areia entre continentes. Os desertos estão a aumentar, o que reduz a área cultivável. Muitas pessoas enfrentam agora a ameaça de não terem água suficiente regularmente. 
Oceano cada vez mais quente: o oceano absorve a maior parte do calor gerado pelo aquecimento global. O ritmo de aquecimento do oceano aumentou muito nas duas últimas décadas, em todas as profundidades. À medida que a temperatura sobe, o volume aumenta, já que a água se expande quando aquecida. O derreter das placas de gelo também causa o aumento do nível do mar, ameaçando comunidades litorais e insulares. Além disso, o oceano absorve dióxido de carbono, evitando que este se concentre na atmosfera; no entanto, mais dióxido de carbono deixa a água mais ácida, ameaçando a vida marinha e os recifes de corais.
Perda de espécies: as mudanças climáticas representam riscos para a sobrevivência de espécies na terra e no oceano. Estes riscos aumentam com o subir das temperaturas. Devido às mudanças climáticas, o mundo está a perder espécies a uma taxa 1.000 vezes maior que em qualquer outro momento na História da Humanidade. Um milhão de espécies estão em risco de extinção nas próximas décadas. Incêndios florestais, clima extremo, além de doenças e pragas invasoras estão entre as várias ameaças relacionadas com as mudanças climáticas. Algumas espécies conseguirão deslocar-se e sobreviver, outras não.
Comida insuficiente: as mudanças no clima e o aumento de eventos climáticos extremos estão entre as razões por detrás do crescimento global da fome e da subnutrição. A pesca, a agricultura e a criação de gado podem ser destruídas ou tornarem-se menos produtivas. Com o oceano a ficar mais ácido, os recursos marinhos que alimentam biliões de pessoas estão em risco. As mudanças na cobertura de neve e de gelo em várias regiões árticas prejudicam o abastecimento de alimentos provenientes do pastoreio, da caça e da pesca. O stresse térmico pode diminuir a quantidade de água e as áreas de pastagem, causando o declínio na produção agrícola e afetando o gado.
Mais riscos para a saúde: as mudanças climáticas são a maior ameaça à saúde que a Humanidade enfrenta. Os impactos climáticos já estão a prejudicar a saúde, com a poluição do ar, doenças, eventos climáticos extremos, deslocações forçadas, pressões sobre a saúde mental e o aumento da fome e da subnutrição em locais onde as pessoas não conseguem cultivar ou encontrar alimentos suficientes. A cada ano, fatores ambientais tiram a vida de cerca de 13 milhões de pessoas. A mudança nos padrões climáticos está a expandir o número de doenças; e os eventos climáticos extremos aumentam as mortes e dificultam a manutenção dos sistemas de saúde.
Pobreza e pessoas deslocadas: as mudanças climáticas aumentam os fatores que levam as pessoas à pobreza e as mantêm nesta situação. As inundações podem assolar bairros de lata urbanos, destruindo casas e meios de subsistência. O calor pode dificultar o trabalho ao ar livre. A escassez de água pode afetar a agricultura. Na década de 2010–2019, eventos relacionados com o clima provocaram a deslocação estimada de, em média, 23,1 milhões de pessoas por ano, deixando muitas mais vulneráveis à pobreza. A maioria dos refugiados vem de países que estão mais vulneráveis e menos preparados para se adaptar aos impactos das mudanças climáticas.

Cabo Verde, devido à fragilidade dos seus ecossistemas, está entre os países que mais sofrem as consequências das mudanças climáticas (aumento da aridez climática e da frequência de secas; agravamento da intrusão salina e deterioração das águas subterrâneas; degradação do solo e perda de biodiversidade; aumento da frequência de tempestades e furacões, entre outras). O país é extremamente vulnerável aos impactos das mudanças climáticas, o que se reflete na prioridade dada à necessidade de aumentar a resiliência climática, quer através do reforço da governança climática, quer de uma maior e melhor implementação de medidas de adaptação a nível local.

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