No município dos Mosteiros, na ilha do Fogo, o mar é mais do que um recurso — é um modo de vida. A pesca artesanal constitui o principal sustento de centenas de famílias e uma das bases económicas locais. Com uma costa oceânica de mais de 20 quilómetros e cerca de 113 pescadores, 37 armadores, 16 peixeiras e 41 embarcações, o setor enfrenta hoje sérios desafios causados pelas mudanças climáticas. O aquecimento das águas e a acidificação dos oceanos têm alterado a distribuição das espécies, afastando os peixes pelágicos da costa e aumentando o esforço de captura, com impactos diretos na economia e na segurança alimentar das comunidades.
Perante esta realidade, o Programa Ação Climática (PAC), implementado pelo Ministério da Agricultura e Ambiente com o apoio da Cooperação Luxemburguesa, e no quadro do Acordo de Parceria Operacional com o Instituto do Mar (IMar), desenvolve o projeto-piloto “Mosteiros Resiliente: Gestão Sustentável da Pesca e Valorização dos Recursos Marinhos”. O projeto visa promover a adaptação da pesca artesanal às mudanças climáticas através da capacitação dos operadores locais e da introdução de tecnologias sustentáveis.
Entre os dias 28 a 29 de outubro foram testemunhados um dos principais resultados a serem alcançados, o lançamento de quatro Dispositivos de Concentração de Peixes (DCPs) ao longo da costa dos Mosteiros. Estas estruturas flutuantes, instaladas entre 0,4 e 0,5 milhas náuticas da costa, aumentam a produtividade da pesca artesanal, reduzem o consumo de combustível e diminuem a pressão sobre os habitats marinhos. Os DCPs foram construídos e instalados com a participação direta dos pescadores, com apoio técnico do IMar e da Associação Projeto Vitó, que também coordena os “Guardiões do Mar”, iniciativa dedicada à vigilância e à monitorização dos ecossistemas marinhos.




Figura 1 – Formação prática dos pescadores na construção dos DCPs, realizada nas instalações da Casa dos Pescadores dos Mosteiros e instalação de DCPs à longa zona costeira do município dos Mosteiros (Ribeira de Sumba; praia de Cais; Zona de Fundom de Relva e Traz de baixa), outubro de 2025.
Paralelamente, foram realizadas ações de capacitação em manuseamento, transformação e valorização do pescado, higiene e segurança alimentar, bem como em Planeamento e Gestão de Pequenos Negócios, beneficiando 30 operadores da pesca artesanal, entre pescadores e peixeiras. Estas formações fortaleceram as competências técnicas e empreendedoras locais, promovendo a diversificação de rendimentos e valorizando o papel das mulheres na cadeia de valor da pesca.
O projeto “Mosteiros Resiliente” demonstra que a resiliência climática se construi localmente, através da cooperação entre instituições e comunidades. A parceria entre o PAC, o IMar, a Câmara Municipal dos Mosteiros, a Associação dos Pescadores e a Associação Projeto Vitó constitui um exemplo de ação climática inclusiva e sustentável, capaz de inspirar futuras intervenções em outros municípios costeiros de Cabo Verde.


Figura 2 – Sessão de encerramento da formação e capacitação em Planeamento e Gestão de Pequenos Negócios destinada às peixeiras e aos pescadores e entre de equipamentos à Associação de Pescadores de Mosteiros.
O mar continuará a ser a alma dos Mosteiros — e a ação climática, a força que garante o seu futuro.

Autor: Nilton Gomes
Assistente Técnico Ação Local -Programa Ação Climática
Coordenação: Inês DE SOUSA MOURÃO
Coordenadora Técnica – Programa Ação Climática