Como o Programa Ação Climática apoiou a delegação nacional e reforçou a participação do país em Belém do Pará
Com apenas 0,002% das emissões globais, Cabo Verde marcou presença ativa na COP30, realizada entre 10 e 21 de novembro de 2025 em Belém do Pará, Brasil. A participação contou com o apoio estratégico do Programa Ação Climática, implementado pela LuxDev, apoiando a ampliação da voz e influência nos debates sobre financiamento climático, adaptação e transparência e a participação em vários eventos paralelos.
O Papel do Programa Ação Climática
O Programa Ação Climática assegurou apoio técnico e financeiro à participação da delegação do Governo de Cabo Verde na COP30, cobrindo logística, produção de materiais em inglês e organização de eventos paralelos. Esta intervenção reforçou a capacidade do país para apresentar soluções inovadoras e posicionar-se como referência entre os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS).
Eventos Paralelos e Impacto
Durante a COP30, Cabo Verde organizou dois eventos de destaque no Pavilhão do Luxemburgo:
- Contabilizando o que Importa: Orçamentação Climática de Cabo Verde para Futuros Resilientes dos SIDS, e
- A Bússola Climática de Cabo Verde: Navegando a Adaptação entre Instituições, Conhecimento e Comunidades.

Estes eventos apresentaram dados concretos, como a marcação climática de cerca de 10% do orçamento nacional (52% mitigação, 35% adaptação, 13% ambos), demonstrando transparência e credibilidade para acesso a financiamento internacional e fazendo a ligação e coordenação do processo de aumento da resiliência através da implementação do Plano nacional de Adaptação.
Durante os evento paralelos os oradores foram:
- Alexandre Nevsky Rodrigues, Secretário Nacional para a Ação Climática, Ministério da Agricultura e Ambiente de Cabo Verde.
- Claudia Hitaj, Conselheira Climática do Ministério do Ambiente, Clima e Biodiversidade do Luxemburgo e Vice-Presidente da Luxembourg Sustainable Finance Initiative (LSFI).
- Rito Évora, Diretor Nacional da Indústria, Comércio e Energia.
- Tânia Romualdo, Representante Permanente de Cabo Verde junto das Nações Unidas.
A sessão foi moderada por Inês Mourão, Coordenadora do Programa Ação Climática da LuxDev em Cabo Verde.
O debate centrou-se na aplicação da mmarcação orçamental Climática (CBT) ao Orçamento de Estado de 2026, revelando que 10% das despesas públicas são relacionadas com o clima, distribuídas entre mitigação (52%), adaptação (35%) e ações combinadas (13%). Foram discutidas estratégias para expandir o CBT a todos os setores e aos orçamentos municipais, reforçando a transparência e a capacidade de mobilizar financiamento climático.
Voz da Diplomacia Cabo-Verdiana
A COP30 reforçou compromissos globais para financiamento climático, adaptação e transparência. Foram aprovadas medidas para acelerar a implementação do Acordo de Paris, com destaque para mecanismos de apoio aos SIDS e países menos desenvolvidos. Cabo Verde destacou-se pela sua abordagem inovadora em governança climática e pela defesa da integração da ação climática em todos os setores, tendo sido convidado para inúmeros eventos paralelos.

“Cabo Verde transforma vulnerabilidade em visão, mostrando que pequenos Estados podem liderar com audácia e inovação.” — Tânia Romualdo, Embaixadora de Cabo Verde na ONU.
Cabo Verde foi também e distinguido com o prémio de melhor colaborador no âmbito dos países que colaboram com o Iniciativa de Capacitação para a Transparência (CBIT).
Neste âmbito, o Programa Ação Climática também tem apoiado Cabo verde, tanto na definição e implementação do Sistema Nacional de Transparência Climática, como na elaboração do primeiro Relatório Bienal de Transparência (BYTR).

Assim, Cabo Verde demonstra que é possível liderar pela transparência e pela integração da ação climática no planeamento orçamental, posicionando-se como exemplo para outros SIDS na marcação climática e na implementação do Plano Nacional de Adaptação (NAP). Para consolidar esta liderança, o país pode explorar novas parcerias com iniciativas do Luxemburgo, como a Luxembourg Sustainable Finance Initiative (LSFI), que promove investimentos sustentáveis e pode apoiar a mobilização de recursos para ações climáticas resilientes.
Resultados Detalhados da COP30
Com base no sumário elaborado pelo Earth Negotiations Bulletin1, a Conferência das Partes (COP30), realizada em Belém do Pará, decorreu num contexto crítico: 2024 foi confirmado como o ano mais quente da história, com cerca de 1,55°C acima dos níveis pré-industriais. As Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) apresentadas ficaram aquém das metas do Acordo de Paris, revelando uma lacuna preocupante na ambição global.
Entre os principais resultados, destaca-se a adoção da decisão ‘Mutirão’, que visa acelerar a implementação do Acordo de Paris, incluindo consultas sobre financiamento climático (Artigo 9.1), medidas comerciais e estratégias para colmatar as lacunas na meta de 1,5°C. Contudo, propostas para incluir referências explícitas à eliminação gradual dos combustíveis fósseis e à reversão da desflorestação não foram aprovadas, apesar do amplo apoio. Outro ponto marcante foi a aprovação do Objetivo Global de Adaptação (GGA), envolto em controvérsia: os indicadores finais apagaram dois anos de trabalho técnico, gerando protestos de várias delegações.
Apesar das tensões, houve avanços positivos, como a adoção de um novo plano de ação para género, a criação de um mecanismo para transição justa e a definição dos próximos anfitriões das COPs: Turquia (COP31) e Etiópia (COP32).
A sessão de encerramento foi marcada por tumultos e pontos de ordem ignorados, levantando questões sobre transparência e legitimidade do processo. Ainda assim, a COP30 reforçou a urgência de acelerar a ação climática e de garantir maior apoio aos países mais vulneráveis, incluindo os SIDS.