Podcast Liderança Juvenil Internacional

Ver episódio do podcast aqui.

Neste episódio foram entrevistados: 

  • Ilda Cerveja, parte da Plataforma Juvenil para a Ação Climática em Moçambique, que visa envolver crianças e jovens de Moçambique na Ação Climática da Região de Maputo e representante do Núcleo Lusófono em Moçambique 
  • Joel Almeida, agente de ligação da Juventude e Género para a Ação Climática no Programa das Nações Unidas de Desenvolvimento em São Tomé e Príncipe e também representante de São Tomé e Príncipe no Núcleo Lusófono e 
  • Verónica Choconesa, angolana, engenheira de perfuração de postos de petróleo e gás e empreendedora em Angola, país que representa no Núcleo Lusófono para a transparência.  

Joel, podes falar um pouco sobre como os jovens e os adolescentes se podem se envolver na causa da Ação Climática? 

Primeiramente, é necessário entender que os problemas climáticos afetam sobretudo os jovens. Jovens e adolescentes, porque há muitos desafios que nós enfrentamos face às mudanças climáticas e para mim, um deles é a questão da saúde. 

As mudanças climáticas aumentam as probabilidades de ocorrência de desastres naturais, e isso faz com que haja secas e cheias e a subsequente proliferação de doenças passadas por vetores, como diarreias e outras doenças que influenciam diretamente aos jovens e adolescentes, por terem organismos mais susceptíveis a esse tipo de doença. Então, devido a esses desafios, eu penso que nós jovens devemos ser os agentes prioritários e essenciais na Ação Climática. 

E envolvê-los pode ser um aspecto de grande importância para que nós consigamos efetivamente alcançar os objetivos climáticos. Como envolver os jovens? Primeiramente, fazendo a auscultação, tentando captar as suas vozes, as suas opiniões, porque são eles que estão mais diretamente afetados nesse aspecto, e é importante que nós consigamos efetivamente incluir todos os jovens para que as suas vozes sejam efetivamente ouvidas. E também nós jovens somos inovadores, somos aqueles que têm mais ideias, e através dessas ideias podemos criar soluções sustentáveis, impactantes, que possam ser úteis para criar políticas mais sólidas face às mudanças climáticas. 

Ilda, conheces o manifesto Infantil Juvenil? Há algum em Moçambique? 

Sim, sim, por acaso li um pouco do Manifesto da Ação Climática do Parlamento InfantoJuvenil de Cabo Verde. 

Em Moçambique nós temos uma declaração de crianças e jovens, são duas por acaso. A primeira elaborámos no âmbito da criação da nossa plataforma sobre as mudanças climáticas, e a segunda no âmbito da organização da primeira conferência local de crianças e jovens sobre mudanças climáticas em Moçambique. Esta declaração foi depois partilhada com a Youngo e continha as nossas mensagens-chave para a COP28. 

Verónica, falando um pouco da resiliência climática, como vês o papel da escola, comunidade, pessoas, adultos, enfim, de todos, na promoção da resiliência climática aqui? Aqui? Aqui em todo o mundo.  

Na verdade, quando nós saímos do nosso núcleo, estou a falar de uma esfera continental, claramente a nossa visão é outra, e precisamos entender a necessidade e a urgência. 

O ano passado, por exemplo, a pessoa esteve na COP, esteve na Africa do Sul, mas os impactos acabam estando em todo o sítio. Não tem impactos na zona A, não tem impactos na zona B, porque, na verdade, como falou o Dongo, uma das coisas lá na nossa atividade que tivemos na Academia Infanto-Juvenil, que só temos apenas um planeta A, e é preciso perceber que não existe planeta B, nem Marte, nem Júpiter, muito menos Vénus. Os jovens são a característica principal, os jovens são a matriz superior. 

É importante destacar nós jovens no empreendedorismo, nós jovens na ação climática, nós jovens em toda a questão, na escola… E olhando numa visão mais ampla, muitos não têm voz. Eu estou muito orgulhosa de ver aqui em Cabo Verde jovens líderes, nasceram já líderes, e no que estamos a viver hoje, e vou levar para Angola também. Já levei, já mandei, na verdade, como eu posso dizer, uma sugestão que é para nós levarmos também a Academia Infanto-Juvenil para Angola, porque, claramente, nós temos debates juvenis acerca do clima, mas nós não temos uma academia para tal, e Cabo Verde representou muito bem, e amei muito, e temos falado nas escolas, mas ainda existe uma déficit sobre isso, precisam trabalhar mais nas escolas, preciso trabalhar mais não só nas escolas, mas nas academias, nas universidades, porque não é uma questão de moda, como todo mundo diz, agora tudo é moda, não, é uma questão de necessidade, de urgência, e precisamos agir. 

Ilda, a Verónica disse que existe um déficit na promoção climática, gostarias de dizer algumas iniciativas que podem promover a resiliência climática?  

Bom, são várias iniciativas que podem promover a resiliência climática, mas para começar, depende do ambiente no qual pretendes trabalhar, por exemplo, durante a Academia InfantoJuvenil, eu compreendi que aqui em Cabo Verde se sofre muito de seca, então primeiro tem que olhar para a situação de Cabo Verde, para depois definir quais são as melhores formas de transformar Cabo Verde num país mais resiliente às mudanças climáticas. Então, uma das preocupações aqui em Cabo Verde é a questão da água, porque a água vem dessalinizada, tem pouca chuva, então é melhor, se calhar, implementando técnicas que podem captar a água da chuva, para que esta água possa ser, embora caia por pouco tempo em pouca quantidade, que possa ser usada para as atividades agrícolas, e tendo em conta também a redução do nível de precipitação aqui em Cabo Verde. 

Agora, para Moçambique, nós em particular somos afetados por cheias, mas ao mesmo tempo também somos afetados por secas, então a questão da adaptação e construção da resiliência climática é um tanto quanto complicada. Por exemplo, para este ano, além das cheias e secas, somos igualmente afetados pelos ciclones, por exemplo, para este ano, aconteceu algo não usual em Maputo, estava previsto que iam ocorrer secas, então o nosso instituto que gere essa área de clima e que informa antecipadamente sobre os eventos climáticos que vão ocorrer, informou aos agricultores, ao nível da província de Maputo, que iam ocorrer secas e todo mundo estava preparado para a seca. Ok, a seca foi ocorrendo, mas de repente houve muita chuva que causou cheias, e então aquilo que morreu com a seca e aquilo que sobreviveu na seca, acabou morrendo com a cheia, e agora os agricultores estão tão mal, não têm nada, tudo morreu. 

Então, para dizer que construir a resiliência é um tanto quanto complicado, mas podemos implementar ações como construir edifícios mais resilientes, por exemplo, porque quando ocorrem ciclones em Moçambique, muitas casas são destruídas, escolas são destruídas, então construir casas mais resilientes é uma das atividades que são extremamente importantes para Moçambique, escolas resilientes. Também a questão da gestão da água pluvial é uma questão importante, porque ao gerirmos de forma adequada a água pluvial, podemos reduzir o nível do impacto das cheias e ao mesmo tempo podemos conservar aquela água para podermos usar nos períodos de seca. Existem atividades que também são feitas como a plantação de árvores, porque muitas das vezes as pessoas têm aquela ideia de que quando estamos a desenvolver a cidade, temos que pôr muitos passeios, construir nossos prédios enormes e esquecem-se que as árvores são importantes, porque elas também ajudam a reduzir as cheias, ajudam a reduzir o impacto dos ciclones, então construir as cidades tendo em conta os objetivos de desenvolvimento sustentável é extremamente importante, tendo em conta a sustentabilidade é extremamente importante. 

Joel, reparei que falam bastante em projetos. Nesse âmbito, eu queria saber quais as dificuldades que enfrentam nos projetos climáticos e como fazem para as ultrapassar? 

As dificuldades são muitas, desde logo eu mencionei a questão da saúde, podemos também dizer a questão da educação, porque quando há esses impactos da mudança climática, isso afeta também a saúde, sobretudo de todas as pessoas. Em relação à saúde, quando há cheia, por exemplo no caso de Moçambique, as escolas ficam sujeitas a não funcionar durante muito tempo e o acesso à educação torna-se cada vez mais reduzido. 

Em relação à saúde, também tem uma questão de saúde mental, essa incerteza do que vai ser o futuro torna que os jovens passam por momentos de estresse, de tédios e que agravem por outros tipos de enfermidades, como depressão e por aí. São muitos desafios que nós, enquanto jovens, crianças, adolescentes, mesmo os adultos passam neste tipo de circunstância. E em relação aos projetos, essa campanha de sensibilização e formação de jovens, acho que é muito importante, nós, enquanto jovens, somos líderes, somos líderes não do futuro, mas do presente. 

E as nossas ações feitas de forma sincronizada e em união, podem criar ações que podem ser expansíveis. E é muito importante que nós também tenhamos essa concepção de o que são mudanças climáticas. E nós, enquanto jovens, estando ali, vendo a seca, no caso de Cabo Verde e Moçambique, nós, particularmente, não temos muita incidência de seca. 

No entanto, já passámos por cheias. Portanto, se os jovens já têm essa noção de como são as mudanças climáticas, estão mais envolvidos nessas questões, poderão, de melhor forma, dar melhores respostas. E podemos também criar melhores soluções. 

Em São Tomé, por exemplo, nós temos jovens que criam projetos sustentáveis. Temos um jovem que usa sacolas a base de fibras de bananeiras para transformar em substituição de sacos plásticos.  

Também temos o caso de uma jovem que usa garrafas de PET, garrafas plásticas para fazer vassouras. Então, são exemplos de projetos e iniciativas que podem ser úteis para mitigar essa questão de mudanças climáticas.  

Verónica, queres acrescentar algo?  

Na verdade, até só reforçando aquilo que os meus colegas disseram, preciso entender que a deficiência do lado juvenil é informação. Porque se nós não tivermos informação e formação, somos deficientes. Porque os primeiros passos não é ainda ver a consequência. 

Nós estamos a ver a consequência, mas houve cheias. O que é que são cheias? Os jovens não sabem o que são cheias, o que é que são secas. Houve o ciclone. 

Ok, houve, tudo bem. É normal da natureza? Então, se os jovens começarem a entender o problema que nos assola, mas as coisas que, quando estamos a falar sobre alterações climáticas, aquecimento global, aumento de gases de efeito de estufa, produção de gases de efeito de estufa, quando falamos de descarbonizar, hidrogénio verde, as pessoas dizem, o que é que é o hidrogênio verde? Mas já buscámos soluções. Mas como é que eu vou buscar soluções se eu não sei quais são as causas? E quem são essas causas? Quais são essas consequências? É preciso entender que, para que o jovem perceba o que está a viver, é necessário que nós passemos o bastão, a palavra. 

É o que estamos aqui a fazer. Somos jovens de ação climática, somos jovens da Academia InfantoJuvenil, mas o conhecimento não pode parar por aqui. E já estamos aqui a fazer aqui o podcast, que é uma solução do Défice, não é? Daquilo que é levar a informação, tanto ela formal, tanto ela informal. 

Capacitar os jovens. É muito importante que os jovens sejam capacitados. É importante que os papais e as mamães começam em casa a ensinar os filhos a separar o lixo. 

E tu, Ilda? Como queres acrescentar? 

Bom, sei que pediu a mensagem final, mas eu gostaria de ressaltar mais uma coisa na pergunta anterior sobre projetos. Concordo com tudo o que os meus colegas disseram, mas é extremamente importante encontrar pessoas que acreditam em nós. Além de precisarmos de capacitações e entre outros aspectos que eles mencionaram. 

É importante encontrarmos pessoas que acreditam em nós. Por exemplo, aqui em Cabo Verde, estamos na Academia InfantoJuvenil. Significa que vocês encontraram pessoas que acreditam na juventude, acreditam no poder dos jovens e estão a investir em cada um de nós que estamos aqui presentes. 

Nós também em Moçambique começamos a trabalhar com a Save the Children. Pessoas que acreditaram em nós e nos deram capacitações, porque muitas das vezes quando um jovem vem com um projeto e depois ele tem pouca experiência as pessoas não acreditam. É uma startup, nunca fez e você aparece com um projeto, as pessoas não acreditam. 

Mas é importante. Há pessoas que acreditam em ti e começam contigo e te capacitam. É importante valorizar essas pessoas que acreditam em nós. 

Agora, quanto à mensagem final, bom, nós somos afetados pelas mudanças climáticas. É um facto. Muitas das vezes podemos advocar contra as mudanças climáticas para a transformação de políticas. 

As políticas podem existir e não serem aplicadas. Também é um facto. Nós como jovens devemos tentar fazer a nossa parte. 

Nós vamos fazer até o nosso nível, até onde nós pudermos. Vamos começar a criar projetos ambientalmente sustentáveis, vamos começar a construir de forma mais resiliente, respeitando a natureza, respeitando o ambiente. Vamos começar a fazer qualquer coisa que possa ajudar a lutar contra as mudanças climáticas e ajudar os nossos países a desenvolverem de forma sustentável. 

E tu, Joel? Qual a tua mensagem final? 

Bom, acho que essa questão é um pouquinho difícil de responder. No entanto, começo por dizer que se queremos a mudança, temos de ser a mudança. 

Portanto, a ação climática exige de nós muita responsabilidade e vontade de querer fazer. Você tira o lixo do chão hoje, coloca num contentor e vê outro, teu colega, coloca no chão. Então, essa responsabilidade de tentar sempre fazer, apesar dos outros que não estão a colaborar, exige de nós muita vontade mesmo, essa persistência e resiliência de poder continuar sempre a fazer. 

Então, portanto, o conselho que deixo é que nós desenvolvamos competências. Competências essas que vão nos permitir estar sempre resilientes, liderar, saber efetuar e passar a mensagem para os nossos semelhantes, para que nós consigamos mais soldados nessa causa que é o combate contra as mudanças climáticas. De modo a sermos mais susceptíveis a adaptar e mitigar a seus efeitos que assola não só a mim, não só a ti, como a todos nós. 

É isso. Bom, as experiências que eu pude captar na Ilha do Maio é que eu vejo muito envolvimento de jovens e isso, para mim, deixa-me muito orgulhoso, tal como falei na nossa sessão. Os jovens de Cabo Verde têm essa garra, essa vontade inata em querer fazer a diferença e isso para mim é uma inspiração. 

Vou levar esse preceito, essa competência, essa razão, essa missão também comigo, no meu coração, para poder também passar para outros jovens de São Tomé e Príncipe e por isso, eu acho que se nós queremos fazer a diferença, temos que ser diferentes.  

Concluis, Verónica? 

Minha vez eu vou começar a dizer a experiência aqui na Ilha do Maio foi espetacular, sabe?  

Eu vou voltar. 

Porque eu me apaixonei por todos vocês, apaixonei-me pela Academia InfantoJuvenil,, olha, apaixonei-me por tudo que está aqui, as praias são lindas, a ilha são lindas, apaixonei-me acima de tudo, pela força de vontade que vocês têm de sair do vosso habitat, vir para cá, ficar uma semana com todos nós aí e uau! Como diz o tio Nuno! Uau! Uau! Então é preciso nós percebermos isso, que Cabo Verde está no meu coração. Eu não sei como é que se fala em crioulo meu coração. 

Autoria

Ilda Cerveja, Joel Almeida e Verónica Choconesa

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