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Neste episódio do Podcast Ação Climática Agora, foi entrevistado Eder Semedo, conselheiro técnico do projeto ProMEC, implementado pela Agência Alemã para a Cooperação Internacional (GIZ), em parceria com o Ministério da Indústria, Comércio e Energia (MICE), projeto esse que pretende ser uma das alavancas da mobilidade elétrica em Cabo Verde, contribuindo para a descarbonização do país.

Eder, qual é o estado atual da mobilidade elétrica em Cabo Verde, e quais são as iniciativas que estão em curso para promover o uso de veículos elétricos? Qual a panorâmica do setor no nosso país? 

A mobilidade elétrica tem assumido um protagonismo cada vez maior em Cabo Verde, o que é demonstrado pelo facto de 5,3% de veículos registados no país em 2023 terem sido elétricos, um número significante e que, esperamos, irá continuar a crescer.  

O percurso do país neste setor tem um marco importante em 2019, com a publicação da Carta de Política para a Mobilidade Elétrica (CPME). Através da CPME, o Governo de Cabo Verde delineou as metas do país para o setor até 2050, colocando Cabo Verde na linha frente relativamente à ambição de eletrificação da frota nacional.  Seguiu-se a preparação de uma proposta de projeto para a Mitigation Action Facility, umfundo climático, que envolveu o MICE e a GIZ, tendo assim nascido o ProMEC. 

Dentre as diversas iniciativas do projeto, destacam-se os incentivos para a aquisição de veículos elétricos e de wallbox (postos de carregamento privados), disponíveis para particulares, empresas públicas e privadas, assim como o estabelecimento de uma rede pública de carregamento por todo o país. 

Neste momento, as pessoas podem beneficiar de um desconto de cerca de 550 mil escudos na aquisição de uma viatura elétrica, sendo que há incentivos especiais para táxis que ultrapassam os 800 mil escudos. O processo é bastante simples, bastando aos interessados dirigir-se a uma das muitas concessionárias inscritas no programa e preencher um formulário. Já são cerca de 200 os veículos financiados pelo projeto.  Todas as informações adicionais estão disponíveis em www.portalenergia.cv/promec .  

Ao mesmo tempo, já são 30 os postos de carregamento disponíveis por todo o país, o reforça a confiança dos utilizadores de veículos elétricos que não tenham a possibilidade de carregar o veículo em casa ou no trabalho, ou que precisem ocasionalmente de utilizar a rede pública. 

Eder, na tua opinião, quais são os maiores desafios que Cabo Verde enfrenta na adoção mais ampla da mobilidade elétrica, tanto a nível de custo de aquisição como da eletricidade e infraestrutura, como em termos de políticas de incentivo? 

É preciso notar a evolução tecnológica tremenda dos veículos elétricos nos últimos anos, incluindo as baterias, o número cada vez maior de fabricantes, o número de utilizadores. Isto tem resultado em constantes descidas do custo de aquisição dos veículos elétricos, e acreditamos que a curto prazo teremos a paridade entre estes veículos e os veículos alimentados por combustíveis fósseis. Além disso, é de realçar que os custos operacionais e de manutenção dos veículos elétricos são significativamente mais baixos, podendo ser entre a 30% a 40% inferior aos dos fósseis. Falamos de uma poupança considerável que, ao longo da operação de um veículo elétrico, fazem toda a diferença. Dou como exemplo os táxis, que são veículos com uma quilometragem que pode chegar aos 250 km por dia. Após cerca de dois anos, a operação de um táxi elétrico atinge o ponto de equilíbrio com a operação de um táxi fóssil, passando a ser mais barato a partir desse ponto. Isso também está por trás do incentivo especial que os táxis recebem – são um subsetor com um potencial tremendo e onde a lógica do mercado já favorece os elétricos. 

Relativamente à rede de recarga, neste momento Cabo Verde é dos países no momento com maior número de postos de carregamento por veículos em circulação, e acreditamos que a rede continuará a ser reforçada para garantir a satisfação de todos os utilizadores.  

Eder, para onde achas que estamos a caminhar no que toca à mobilidade elétrica em Cabo Verde? O que podemos esperar para o futuro, e como é que a população, o setor privado e as autoridades podem contribuir para essa transição? 

O setor privado já abraçou claramente a mobilidade elétrica, que já é vista como uma oportunidade de negócio e de geração de empregos. Os números relativos aos beneficiários de incentivos assim o dizem, assim como o entusiasmo verificado tanto junto das concessionárias automóveis nacionais, ou de outros atores como operadores, vendedores e instaladores de postos de carregamento. O mercado continua a crescer, o quadro regulamentar será reforçado para garantir os deveres e direitos de todos os atores do setor. Existe o compromisso do Governo no sentido de eletrificar toda a frota pública até 2030, e acreditamos que os passos a serem dados nesse sentido irão reforçar ainda mais a confiança no ecossistema que se está a criar.  

Ao mesmo tempo, todos temos de trabalhar no sentido de desmistificar a mobilidade elétrica, combatendo noções falsas que são muitas vezes repetidas sobre a viabilidade destes veículos em Cabo Verde. Reforçar o conhecimento da população é um esforço contínuo do ProMEC e dos seus parceiros, ao qual chamamos todos a aderir.  

Eder, podes explicar como funcionam os incentivos para quem quer comprar um carro elétrico e o que é que as pessoas lá de casa podem fazer? 

É bastante fácil! Qualquer pessoa ou entidade privada/pública interessada só tem de dirigir-se a uma das concessionárias registadas no programa e escolher o veículo elétrico que pretende adquirir. Ali, preenche um formulário com as informações necessárias e… já está. A concessionária dará andamento ao processo junto do programa, e o beneficiário será notificado pela mesma quando o processo for aprovado.  

Eder, existem muitas dúvidas em relação a manutenção de uma viatura elétrica, como, por exemplo, na época de chuva, como se vai o veículo  comportar com os salpicos e as poças de água que nós temos, e como será a manutenção mecânica? Podes demonstrar que as viaturas elétricas continuam a ser seguras e a funcionar? 

Estes são os mitos que temos de combater! Faça chuva, faça sol, haja neve, os veículos elétricos são 100% confiáveis, não havendo nenhuma diferença relativamente aos veículos fósseis. Da Noruega à China, passando pelo Quénia ou Colômbia, os veículos elétricos estão presentes em todos os continentes e condições climáticas, sem que qualquer problema tenha sido verificado.  

No campo da manutenção, o ProMEC tem feito um acompanhado das concessionárias no sentido de garantir que as mesmas oferecem um serviço pós-venda de qualidade. Além disso, no âmbito de um memorando de entendimento com o IEFP, será organizado em novembro de 2024 uma formação de formadores em manutenção de veículos elétricos. Com isto, pretende-se incluir na formação profissional nacional a oferta deste módulo no futuro próximo, garantindo a formação de mecânicos com essa valência.

Eder, queres deixar alguma mensagem final?

A descarbonização é um imperativo do nosso país, com vista a uma maior segurança energética e redução do impacto extremamente nefasto da importação de combustíveis fósseis nas contas públicas nacionais. A eletrificação dos veículos vem complementar as várias iniciativas no país com vista ao aumento da penetração de energias renováveis. É uma solução que faz sentido para o país e faz sentido para o planeta. Todos, autoridades públicas nacionais e municipais e o setor privado, devemos contribuir para termos cidades menos poluídas e menor emissão de GEE.

Autoria

Eder Semedo,
Conselheiro técnico do projeto ProMEC