Uma experiência transformadora
Como jovem profissional dedicado à ação climática vindo de além fronteiras, encontrei neste arquipélago muito mais do que paisagens deslumbrantes e hospitalidade calorosa. Encontrei um contexto onde as mudanças climáticas não são apenas um conceito técnico — são uma realidade vivida diariamente. As secas prolongadas, os padrões climáticos imprevisíveis e os desafios na gestão de recursos naturais são parte do quotidiano cabo-verdiano. E, acima de tudo, encontrei uma resiliência inspiradora.
Integração cultural e conexão local
Aprendi que enfrentar as mudanças climáticas não se resume a políticas e projetos. É sobre compreender o impacto humano, ouvir as instituições e comunidades e cocriar soluções que sejam inclusivas e sustentáveis. A integração cultural também foi essencial: aprender crioulo, comer uma boa cachupa ao pequeno-almoço, tomar chazinho à tarde e voltar de bicicleta a casa depois do trabalho tornaram-se rituais que me conectam à comunidade local e moldam a forma como encaro o trabalho e a vida.
Colaboração e crescimento profissional
Trabalhar lado a lado com colegas cabo-verdianos e internacionais, com diferentes estilos e experiências, ensinou-me a valorizar a diversidade como força. A colaboração, a paciência, o respeito mútuo e a comunicação aberta criaram um ambiente onde me senti ouvido, apoiado e desafiado a crescer. A confiança dos pares tanto dentro da equipa como de instituições diversas permitiu-me melhorar o conhecimento, assumir e liderar responsabilidades técnicas com autonomia — uma evolução que me marcou profundamente.
A transversalidade da ação climática
A ação climática, pela sua natureza transversal, exige um diálogo aberto com múltiplos setores e partes interessadas, em diferentes níveis. Trabalhar com diversos setores — desde a energia à agricultura, passando pela educação e finanças — foi uma experiência profundamente enriquecedora. Cada setor trouxe perspetivas únicas, todas pertinentes e relevantes, que ampliaram a minha compreensão sobre os desafios e oportunidades da ação climática. Esta diversidade exige uma troca constante de ideias e informações, para garantir que as soluções acompanham o desenvolvimento e as dinâmicas próprias de cada área.
Contribuições concretas
Entre os marcos profissionais, destaco a participação ativa na elaboração de um documento estratégico para mobilização de financiamento climático para o país, e a aprovação de dois projetos por um fundo internacional. Ver estas ideias passarem do papel à aprovação foi um exercício de perseverança, coordenação e rigor técnico — e uma contribuição direta para a resiliência climática do país.
Relações e reconhecimento
Mais do que os resultados, o que mais me marcou foi a qualidade das relações construídas com os parceiros locais. O reconhecimento recebido em reuniões e oficinas confirmou que o trabalho foi relevante e bem acolhido. Essa confiança mútua é, para mim, o maior indicador do impacto positivo do programa.
Reflexão final
Ser um jovem profissional da ação climática é, acima de tudo, estar disposto a aprender, adaptar-se e colaborar. É reconhecer que o conhecimento técnico só ganha força quando está enraizado na realidade das pessoas. E é perceber que, estando num pequeno país insular, há grandes lições de coragem, inovação e humanidade à espera de serem vividas.
Autor: Pedro Malheiro – Programa Ação Climática
2 Outubro, 2025