Cabo Verde caminha firme rumo à sustentabilidade energética com o projeto da central de armazenamento de energia por bombagem hídrica, “Santiago Pumped Storage”, que será construído em Chã Gonçalves, no concelho da Ribeira Grande de Santiago – ilha de Santiago. Esta infraestrutura irá aumentar de forma significativa a capacidade de armazenamento de energia, permitindo o aumento da capacidade de produção elétrica do país através das fontes renováveis, garantir a independência e a segurança energética e adaptar às mudanças climáticas.

Com 20 megawatts (MW) de potência instalada e 179 megawatts-hora (MWh) de capacidade de armazenamento de energia, o “Santiago Pumped Storage” representa um projeto pioneiro e estratégico em Cabo Verde, alinhado com os esforços nacionais para atingir metas ambiciosas de produção de energia limpa.

A sua implementação baseia-se em vários estudos que vem sendo desenvolvidos desde 2011, que tiveram em conta condicionantes ambientais e sociais. Estes culminaram na realização do Estudo de Impacte Ambiental e Social (EIAS), incluindo trabalhos de campo realizados em 2024.

No dia 6 de novembro, a Direção Nacional da Indústria, Comércio e Energia, com o apoio do Programa de Apoio à Transição Energética, financiado pela Cooperação Luxemburguesa, realizou, no Centro Cultural da Ribeira Grande de Santiago, um workshop de apresentação e socialização dos Resultados que constam no EIAS. A sessão contou com a participação de representantes das comunidades de Chã Gonçalves e Beatriz Pereira, da Câmara Municipal local, da Direção Nacional do Ambiente, do Instituto Nacional de Saúde Pública, do Instituto do Patrimônio Cultural entre outros atores entre outros atores e instituições envolvidas no processo.

O estudo concluiu que o Projeto é viável do ponto de vista ambiental e social, desde que as medidas propostas sejam implementadas e monitorizadas com rigor, nomeadamente:

• Implementação do Plano de envolvimento das partes interessadas, incluindo mecanismo de gestão de reclamações;
• Plano de restabelecimento de meio de subsistência;
• Plano de acessos, vedações e outras medidas de segurança para prevenir o acesso indevido e inseguro de pessoas a locais de risco;
• Gestão de ruído e vibrações para não incomodar os habitantes, prevenção da eletrocução e colisão das aves com a linha elétrica;
• Plano de resposta às emergências;
• Plano de recrutamento, mecanismo de reclamação dos trabalhadores, bem como código de conduta para o cumprimento dos requisitos ambientais, sociais, de saúde e segurança, e de prevenção da violência baseada no género (VBG) e da violência sexual contra crianças,  jovens e mulheres, entre outras medidas de mitigação.

O Ministro da Indústria, Comércio e Energia, Eng.º Alexandre Monteiro, que presidiu o workshop de socialização afirmou que o Projeto “Santiago Pumped Storage” representa “o símbolo do futuro energético de Cabo Verde, baseado na sustentabilidade, na inovação e na independência energética”. Alexandre Monteiro destacou ainda que a realização do estudo (EIAS) reforça o compromisso do país com as boas práticas nacionais e internacionais na concessão e implementação de grandes infraestruturas energéticas, promovendo não apenas o cumprimento de normas ambientais e sociais, mas também o diálogo com todas as partes interessadas sobre a relevância deste investimento para o futuro energético nacional. Para além dos benefícios ambientais, o projeto trará impactos económicos e sociais relevantes, incluindo a criação de empregos diretos e indiretos durante a fase de construção, o impulso à atividades económicas locais e a dinamização do município da Ribeira Grande de Santiago. Estão igualmente previstos benefícios sociais diretos, como a possibilidade de reforço do fornecimento de água dessalinizada às comunidades vizinhas e ações de requalificação urbana e requalificação habitacional nas duas comunidades mais próximas ao empreendimento.

A central permitirá armazenar grandes quantidades de energia proveniente do “sol e do vento”, garantindo a continuidade do fornecimento mesmo nos períodos sem vento ou radiação solar. A infraestrutura vem, assim, complementar a produção dos parques eólicos e solares existentes e outros já em expansão na ilha de Santiago, criando um sistema elétrico mais eficiente, estável e equilibrado. Com esta infraestrutura, o país dá um passo decisivo para alcançar mais de 50% de penetração de energias renováveis até 2030, meta definida no Plano Diretor do Setor Elétrico 2018-2040. Além de aumentar a capacidade de produção, o projeto contribuirá para a resiliência e estabilidade do sistema elétrico nacional.

Inserido no pacote Global Gateway Facility, o projeto representa um investimento de 79 milhões de euros e conta com o apoio da Cooperação Luxemburguesa no desenvolvimento de importantes estudos técnicos e complementares, incluindo a elaboração do caderno de encargos para o concurso para a construção. As obras iniciarão em 2026, com início da fase de operação programado para 2029, com o objetivo de incrementar e injetar 7% de energias renováveis na rede pública nacional e 18% na da ilha de Santiago.

A infraestrutura funcionará através de dois reservatórios, com capacidades de 396 mil e 353 mil metros cúbicos (m³) de água, que permitirão armazenar excedentes de energia eólica e solar através de um sistema de bombagem. Espera-se que este mecanismo reduza em 22% o consumo de combustíveis fósseis na produção de eletricidade. Além disso, está prevista a construção de uma dessalinizadora com capacidade para produzir mil metros cúbicos de água por dia, compensando as perdas por evaporação. Será igualmente construída um nova linha de alta tensão de 60kV e duas subestações, que permitirá a conexão da central de armazenamento no sistema eléctrico da ilha de Santiago.

Com o “Santiago Pumped Storage”, Cabo Verde dá um passo decisivo rumo a um sistema elétrico mais limpo, estável, resiliente e independente.