As ações de conservação costeira e marinha, mobilização comunitária e inovação sustentável que vêm sendo implementadas pela Biosfera integram uma perspectiva de gênero que valoriza tanto o protagonismo feminino como também a participação masculina, ambos em termos culturais que trazem uma ancestralidade ligada à natureza e à relação do homem e da mulher com ela.
A crise climática tem sido um dos fatores que afetam desproporcionalmente os mais vulneráveis e exige respostas integradas que considerem não só os desafios ambientais, mas também as desigualdades sociais e de gênero. Ao longo dos anos, a Biosfera tem desenvolvido diversos projetos em parceria com comunidades locais, organizações internacionais e atores governamentais, com o objetivo de proteger os ecossistemas marinhos e costeiros de Cabo Verde. Estes projetos, embora com focos distintos, convergem na promoção da sustentabilidade ambiental e no fortalecimento do capital humano das ilhas.
Um dos projetos que visam a participação ativa das mulheres, principalmente em temas tradicionalmente dominados por homens, são os de conservação marinha, monitorização ambiental e ciência cidadã. As mulheres das comunidades costeiras vêm participando ativamente nos programas de conservação de tartarugas e aves marinhas, promovendo a sua preservação e desenvolvendo oportunidades de negócios de ecoturismo voltados para a observação de espécies.
Como também a implementação de iniciativas voltadas para o Labelling e a transformação de produtos pesqueiros por parte das peixeiras no projeto 1Mar de Comunidade, esta iniciativa permite a criação de oportunidades para essas mulheres incrementarem o valor do pescado, capturado de forma sustentável e seguindo normas de higiene e manuseamento de pescado. As peixeiras são parte da cultura cabo-verdiana, e enaltecer e criar formas de melhorar o ganha-pão dessas mulheres, que muitas vezes vêm sendo assoladas pelas consequências que as alterações climáticas vêm trazendo a nível local.
Assim, essas mulheres têm contribuído com boas práticas que reforçam a resiliência ecológica e climática voltadas para o uso e gestão sustentável dos recursos marinhos. Um exemplo é a escolha de um produto com um rótulo de sustentabilidade que segue a lei nacional relacionada aos tamanhos mínimos de captura, às épocas de defeso e aos engenhos de pesca, e à transformação de pescado com técnicas aprimoradas de higiene e conservação, reduzindo desperdícios e agregando valor ao produto final.
O papel dos homens na conservação também tem sido implementado. O programa Guardiões do Mar visa promover ações de monitorização e preservação de espécies marinhas por parte dos pescadores, que, por sua vez, são os que no dia a dia testemunham os efeitos das alterações climáticas na pesca e na natureza. O programa visa não só capacitar os pescadores em temas de monitorização e apanha acidental de espécies, mas também criar uma consciência ambiental e ferramentas para se adaptarem e mitigarem os efeitos das alterações climáticas.
Ambos os géneros têm colaborado também na reabilitação de habitats costeiros, como a limpeza de praias e a proteção de ninhos de tartarugas, e na partilha intergeracional de saberes ambientais com jovens e crianças, assegurando a continuidade do cuidado com o oceano e com a terra.
A ação climática eficaz precisa ser coletiva, justa e inclusiva. A conservação da natureza e o desenvolvimento sustentável só serão possíveis quando todos os membros da comunidade tiverem voz ativa e oportunidades equitativas para agir.
Autoria
Jessica de Matos