Newsletter 7 | Abril 2025 | Ulisses da Cruz

Estatísticas sobre os Desastres e Eventos Climáticos Extremos e as Mudanças Climáticas – Relatório “Ambiente e Mudanças Climáticas – IMC 2024”  

No dia 14 de abril, o Instituto Nacional de Estatísticas publicou o relatório “Ambiente e Mudanças Climáticas – IMC 2024”. Neste relatório são apresentados os resultados dos módulos “Desastres e Eventos Climáticos Extremos” e “Ambiente e Clima”, ambos integrados pela primeira vez no Inquérito Multi-objectivo Contínuo (IMC), e que estão de acordo com a Estratégia Nacional de Desenvolvimento da Estatística (ENDE) 2022-2026. 

O IMC é uma operação estatística de recolha de dados junto dos agregados familiares, que integra, de forma harmoniosa, um conjunto de módulos, tendo como base o módulo mercado de trabalho. Esta operação estatística substitui os vários inquéritos que eram realizados de forma independente e disponibiliza às autoridades públicas, aos decisores e demais utilizadores, indicadores para a análise macroeconómica, o planeamento, a formulação, a avaliação de políticas, etc. 

Cabo Verde, sendo um Pequeno Estado Insular em Desenvolvimento (PEID), tem uma alta vulnerabilidade às Mudanças Climáticas e tem a necessidade urgente de se adaptar aos seus impactos. O desenvolvimento social, económico, político e ambiental do país não será alcançado ou não será sustentável, se as Mudanças Climáticas e os efeitos dos desastres naturais não forem compreendidos e tidos em conta. Para isso, é preciso ter dados fiáveis e de qualidade sobre os mesmos. Deste modo, a recolha da informação estatística sobre as mudanças climáticas junto às famílias é fundamental, de forma a ter-se um conhecimento mais claro do seu comportamento e assim, contribuir para a formulação de melhores políticas públicas, incluindo uma melhor educação ambiental e climática. 

Desastres e Eventos Climáticos Extremos  

Nos 12 meses anteriores à data de realização deste inquérito, 17,1% dos agregados familiares foram afetados pela bruma seca, 12,2% pelas secas, 2,6% pelas ondas de calor ou temperaturas extremas, 1,4% pelas cheias ou inundações provocadas pelas chuvas, 0,6% pelos deslizamentos de terras, 0,2% pelas ondulações fortes ou inundações costeiras, 0,2% pelas tempestades tropicais e 0,1% foram afetados por outros eventos climáticos extremos.  

Dos 26.963 agregados familiares que foram afetados pela bruma seca nos 12 meses anteriores à data de realização deste inquérito, 44% tinham como representante um homem e 56% uma mulher. Em relação ao meio de residência, 80% desses agregados viviam no meio urbano, enquanto 20% viviam no meio rural. Esses agregados familiares foram afetados nos seguintes aspetos: 88,3% tiveram a saúde dos seus membros afetados, 16,8% tiveram os seus dias de trabalho afetados, 10,8% tiveram o acesso à escola afetado, 2,6% tiveram os seus bens e equipamentos afetados, 0,9% tiveram o acesso a serviços básicos afetados e 1,7% foram afetados em outras coisas. Em relação a medidas tomadas para fazer face aos efeitos negativos da bruma seca, 67,4% dos agregados não tomaram nenhuma medida. Por outro lado, 22,1% dos agregados foram a um estabelecimento de saúde ou compraram/usaram máscaras, remédios ou chás.   

Dos 19.276 agregados familiares que foram afetados pela seca nos últimos 12 meses anterior à data de realização deste inquérito, 49% tinham como representante um homem e 51% uma mulher. Em relação ao meio de residência, 49% desses agregados viviam no meio urbano, enquanto 51% viviam no meio rural. Esses agregados familiares foram afetados nos seguintes aspetos: 52,4% tiveram os seus bens e equipamentos afetados, 4,2% tiveram a sua habitação afetada, 3,7% tiveram os seus dias de trabalho afetados, 3,0% tiveram o acesso a serviços básicos afetados, 2,9% tiveram a saúde dos seus membros afetados e 6,3% foram afetados em outras coisas. Em relação a medidas tomadas para fazer face aos efeitos negativos da seca, 66,8% dos agregados não tomaram nenhuma medida. Por outro lado, 24,4% dos agregados afetados gastaram as suas poupanças. 

Dos 4.085 agregados familiares que foram afetados pelas ondas de calor nos últimos 12 meses anterior à data de realização deste inquérito, 46% tinham como representante um homem e 54% uma mulher. Em relação ao meio de residência, 77% desses agregados viviam no meio urbano, enquanto 23% viviam no meio rural. Esses agregados familiares foram afetados nos seguintes aspetos: 35,9% tiveram a saúde dos seus membros afetados, 4,7% tiveram os seus bens e equipamentos afetados, 3,2% tiveram os seus dias de trabalho afetados, 1,3% tiveram o acesso à escola afetado, 1,1% tiveram o acesso a serviços básicos afetado e 1,4% foram afetados em outras coisas. Em relação a medidas tomadas para fazer face aos efeitos negativos das ondas de calor, 68,7% desses agregados não tomaram nenhuma medida. Por outro lado, 7,9% dos agregados afetados reforçaram as estruturas das suas habitações (telhado, parede, etc.).  

Mudanças Climáticas 

A percentagem da população de 15 anos ou mais em Cabo Verde que já ouviu falar nas Mudanças Climáticas foi de 68%. Dentro dessa população, a maioria dela, neste caso 75,4%, considerou que o que define as Mudanças Climáticas é o aumento da temperatura do ar. Por outro lado, 42,3% dessa população considerou a alteração das estações do ano como uma das melhores definições. A terceira definição mais identificada para as Mudanças Climáticas foi o aumento do número de desastres e eventos climáticos extremos, com uma percentagem de 40,9%. 

A proporção da população de 15 anos ou mais que pensaram que a utilização de combustíveis fósseis é uma das principais causas das Mudanças Climáticas, foi de 81,0%. A percentagem que achou que a desflorestação é uma das causas, foi 55,3%. Em contraste, 29,6% dos indivíduos de 15 anos ou mais acharam que as Mudanças Climáticas têm causas não-humanas.   

A grande maioria da população de 15 anos ou mais (85%) sentiu-se preocupada com as Mudanças Climáticas e os seus impactos, enquanto 9% não se sentiu preocupada e 6% sentiu-se indiferente. Exatamente três quartos (75%) da população de 15 anos ou mais considerou que as Mudanças Climáticas ameaçam ou ameaçarão o bem-estar do seu agregado familiar, enquanto 20% não a considerou como uma ameaça e 5% sentiu-se indiferente.  

A principal fonte usada da população de 15 anos ou mais para se informar sobre as Mudanças Climáticas foi a Televisão, com 47%. Logo a seguir, vem a Internet/Redes sociais/Aplicações, com uma proporção de 39%, as Escolas/Universidades com 5%, a Rádio com 4% e outras fontes de informação (familiares, amigos, comunidades, igrejas, jornais/revistas em papel, empregador, etc.) também com 4%.  

Para 30% da população de 15 anos ou mais, o principal responsável pelo combate às Mudanças Climáticas são as pessoas singulares. Depois vem as organizações internacionais com 23%, os países desenvolvidos com 20%, o governo nacional com 13%, e outros com 9%. É de referir que 67% da população de 15 anos ou mais pensou que as ações tomadas pelo governo para combater o impacto das Mudanças Climáticas foram insuficientes para fazer face aos impactos nas pessoas e nas localidades. Por outro lado, 28% das pessoas pensaram que as ações tomadas foram boas e suficientes.  

Mais de três quartos da população de 15 anos ou mais, exatamente 77%, considerou que o local onde residia esteve mais quente no último ano em comparação aos últimos 5 anos. Entretanto, 11% achou que a temperatura não mudou e 11% considerou que esteve menos quente. Somente 14% da população de 15 anos ou mais considerou que o local onde residia foi mais chuvoso no último ano em comparação aos últimos 5 anos. Em contraste, 73% achou que o último ano foi menos chuvoso e 12% que nada mudou nos últimos 5 anos.

Autoria

Ulisses da Cruz

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