Newsletter 6 | Março 2025 | Carla Lima Semedo

Financiamento Climático na Austrália: Lições e Perspetivas de uma Jornada Transformadora 

A participação no curso “Financing Climate Action in Africa“, realizado na Austrália no âmbito do programa “Australia Awards Africa”, foi uma experiência profundamente enriquecedora e inspiradora. A estrutura do curso foi organizada em três fases principais, garantindo uma aprendizagem contínua e prática: 

  1. Pre-Learning Activities (PA): Online via MS Teams (20 a 25 de janeiro de 2025) 
  1. Core Learning Elements (CLE): Presencial na Austrália (Perth e Canberra) (3 a 14 de fevereiro de 2025) 
  1. Applied Learning Activities (ALA): Online via MS Teams (21 a 27 de março de 2025) 

Fase 1: Atividades de Pré-Aprendizagem (PA) 

A primeira fase do curso consistiu em sessões online preparatórias para a experiência presencial. Um dos momentos mais relevantes foi a apresentação sobre as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) dos 18 países participantes, o que proporcionou aos participantes uma compreensão prévia do tema, facilitando discussões mais aprofundadas durante o curso presencial. O formato híbrido demonstrou ser uma estratégia eficaz para maximizar o aproveitamento do programa.

Fase 2: Aprendizagem Presencial na Austrália (CLE) 

Primeiros Dias: Introdução e Contextualização 

O curso teve início em Perth, onde fomos calorosamente recebidos com uma cerimónia de abertura que destacou a importância da cooperação internacional para responder aos desafios climáticos. Entre os dias 3 e 14 de fevereiro de 2025, tive a oportunidade de imergir num ambiente de aprendizagem intensivo, explorando as nuances do financiamento climático e interagindo com especialistas de renome, bem como colegas de diversos países africanos.

Nos primeiros dias, explorámos o panorama geral do financiamento climático, analisando mecanismos globais e estruturas regulatórias que determinam o acesso a esses recursos.

Uma das sessões mais marcantes abordou a integração de políticas climáticas nacionais nos sistemas internacionais de financiamento, onde os participantes puderam apresentar e comparar as abordagens de seus respetivos países. Como esse tema já havia sido analisado na fase online, foi possível aprofundar as discussões, trazendo insights mais detalhados sobre desafios e oportunidades.

Neste contexto, a partilha da experiência de Cabo Verde na mobilização de financiamentos climáticos revelou-se uma contribuição valiosa para o debate.

Explorando as Oportunidades de Financiamento Climático 

Nos dias seguintes, aprofundámos os instrumentos financeiros que viabilizam a transição para economias de baixo carbono, estudando casos práticos de financiamento verde e mecanismos inovadores de resiliência climática.

Uma sessão particularmente impactante foi dedicada ao papel do setor privado na mobilização de recursos, trazendo exemplos concretos de como parcerias público-privadas têm impulsionado projetos sustentáveis em diferentes contextos.

A Avaliação e Monitorização de projetos de ação climática foi um dos temas de destaque,  com enfoque na experiência australiana na integração de sistemas de MRV (Measurement, Reporting, and Verification) no financiamento climático.

A discussão sobre género, inclusão social e financiamento climático também foi um dos pontos altos do programa. Refletimos sobre como o acesso ao financiamento pode ser estruturado de forma mais equitativa, garantindo que mulheres e comunidades vulneráveis tenham participação ativa em soluções climáticas.

Além disso, analisámos os impactos socioeconómicos das alterações climáticas, as oportunidades existentes nos mercados de carbono e da implementação de instrumentos de gestão de risco climático a níveis nacional e internacional.

Ainda em Perth, tivemos oportunidade de visitar a University of Western Australia econhecemos o CO₂ Lab. Este foi um dos momentos mais enriquecedores da missão, permitindo-nos observar experiências inovadoras na redução de emissões e armazenamento de carbono, reforçando a importância da pesquisa aplicada no combate às alterações climáticas.

Engajamento com vários Stakeholders 

Na segunda parte da fase presencial, em Canberra, o foco foi a interação com entidades governamentais e instituições estratégicas.

Participámos em sessões com a Clean Energy Regulator, Clean Energy Finance Corporation e a Climate Change Authority, onde foram partilhadas boas práticas, desafios e estratégias para a implementação de políticas climáticas eficazes.

Estas interações proporcionaram um entendimento aprofundado sobre os mecanismos de financiamento climático, o sistema regulatório existente e casos de estudo sobre como funciona o sistema da Australian Carbon Credit Unit (ACCU).

Fase 3: Aplicação Prática do Conhecimento (ALA) 

O curso não se encerrou com a experiência presencial na Austrália. A fase final consiste em atividades online focadas na implementação dos conhecimentos adquiridos no contexto real de trabalho. Como requisito do programa, cada participante foi incentivado a desenvolver e aplicar um Plano de Retorno ao Trabalho (RAP), adaptando as aprendizagens para a realidade do seu país e instituição. Esta etapa reforça a necessidade de replicar boas práticas e avaliar a aplicabilidade dos instrumentos financeiros no contexto cabo-verdiano. 

Lições Aprendidas e Perspetivas para Cabo Verde 

Esta imersão no ecossistema de financiamento climático australiano proporcionou insights fundamentais que pretendo incorporar nas minhas funções profissionais em Cabo Verde.  

  • A necessidade de fortalecer a integração de mecanismos financeiros sustentáveis nas políticas nacionais. 
  • O papel estratégico do setor privado na dinamização de projetos climáticos.  
  • A importância da capacitação contínua de profissionais na formulação de projetos alinhados aos critérios dos fundos climáticos internacionais. 
  • O networking e a colaboração internacional como pilares fundamentais para fortalecer a resiliência climática global. 

Esta experiência na Austrália não foi apenas um momento de aprendizagem, mas um ponto de partida para novas iniciativas e parcerias que poderão beneficiar Cabo Verde na mobilização e gestão de financiamentos para ação climática. 

Regresso com uma nova perspetiva sobre as oportunidades e desafios do financiamento climático. Agora, o foco está em traduzir esse conhecimento em ações concretas que contribuam para a resiliência climática do país e para o fortalecimento das políticas públicas nesta área. 

Agradecimentos 

Gostaria de expressar a minha gratidão ao Governo Australiano, através do Departamento de Negócios Estrangeiros e Comércio, pelo financiamento do curso, à Curtin University, pelo seu excecional corpo docente e equipa de apoio e pelas excelentes condições proporcionadas no campus universitário em Perth, Western Australia. 

Um agradecimento à Direção Nacional do Planeamento, pelo endosso institucional à minha participação nesta formação.  

E a todos os colegas que partilharam esta incrível jornada de aprendizagem, com especial destaque para Nilda da Mata, de São Tomé e Príncipe, e Nuno Ribeiro, membro do Programa de Ação Climática em Cabo Verde, que também participou no curso e com quem procurei, em conjunto, representar o nosso país ao mais alto nível. 

Um grande bem-haja a todos os envolvidos! Juntos, seguimos na missão de construir um futuro mais sustentável para todos! 

Autoria

Carla Lima Semedo
Diretora de Serviço de Mobilização de Recursos  
Direção Nacional do Planeamento
Ministério das Finanças 

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