2024: Jornalismo mais sensível à crise climática!

A língua inglesa continua sendo um dos principais desafios para mim, enquanto jornalista climático em Cabo Verde. Uma dificuldade que almejo ultrapassar em 2025 e, assim melhor aceder as publicações do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas – IPCC, organização cinentifica e política das Nações Unidas, que tem produzido e publicado trabalhos cientificos, relatórios e outros documentos orientadores sobre as mudanças climáticas. Outrossim, é garantir a presença assidua de cabo Verde nas COP e outros eventos internacionais relacionados ao clima. 2024 foi o ano da sementeira, para esse e outros efeitos e em 2025 almejo colher os frutos.

2024 foi, sem dúvida, um ano de muita aprendizagem para mim enquanto jornalista que tem trabalhado as questões climáticas e ambientais. Com destaque, para formações que tive acesso e melhor compreensão desse fenómeno complexo que são as alterações climáticas e seus impactos, tanto ao nível global quanto ao nível nacional. Outro ganho importante, que ressalto neste artigo, é o facto do Programa Ação Climática em Cabo Verde me ter proporcionado, durante algumas formações, momentos de partilha de experiência com outros profissionais ligados a área ambiente e clima em Cabo Verde. Um capital, que me tem permitido alargar a minha rede de contacto e, ao mesmo, tempo criar conexões/ laços de confiança com técnicos superiores de sectores como agricultura e ambiente, turismos, finanças, indústria, energia e, até mesmo infraestruturas e outras áreas. Ultrapassando, assim paulatinamente, o problema de acesso a fontes oficiais e credíveis em questões ligadas ao clima e ambiente que tenho enfrentado em algumas produções radiofónicas (edição de Grandes Reportagens, sobretudo).

Ao nível internacional, tive acesso a rede de jornalistas internacionais, formações online e bolsa de cobertura informativa de conferências internacionais. A titulo de exemplo, cito a Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas – COP29 que teve lugar entre 11 e 22 de Novembro passado, no Azerbaijão. Confesso que é a segunda vez que participei na Conferência das Partes, mas este ano – 2024, com um olhar jornalístico diferente e mais esclarecida/ consciente da importância desse evento para um país como Cabo Verde. Digo isto, porque antes de viajar para Azerbaijão tive a oportunidade de participar numa ação intitulada “Negociação Climática”, promovida pelo Programa Ação Climática e parceiros. Enquanto jornalista climático posso garantir, com base no aprendizado adquirido, minha prática profissional e dos testemunhos que tenho recolhido no terreno, que Cabo Verde deve apostar, principalmente, na “Agricultura e segurança alimentar e nutricional”, “Pescas e zonas costeiras”, “Silvicultura” e “Saúde Humana” com foco na mobilização de “Água”, tanto para as citadas atividades, quanto para o consumo humano como elementos chave de materialização do seu Plano Nacional de Adaptação Climático e, sobretudo nas negociações globais.

Para melhor justificar a minha argumentação, cito um dos meus entrevistados, Adilson Gonçalves – um jovem agricultor de 37 anos que fala da sua experiência nessa atividade primária na Ribeira dos Picos, no município de Santa Cruz. Adilson Gonçalves, que segue as pisadas dos seus pais e avós, diz que comparativamente a época da sua infância, a escassez de água é hoje cada vez mais notória. Se outrora as parcelas eram irrigadas por alagamento, hoje o cenário é diferente. Como agricultor de uma das ribeiras agrícolas mais ricas de Cabo Verde, para além da falta de água, as pragas devido as sucessivas secas, o calor excessivo e, sobretudo, a salinidade dos terrenos cultiváveis são, também outros problemas enfrentados por esse e outros agricultores. E todas essas dificuldades são advindas das alterações climáticas de acordo com alguns estudos científicos produzidos e divulgados no país. Logo, nas negociações climáticas o foco do país deve ser virado para a adaptação climática, sem por em causa a mitigação e a estratégia nacional para o efeito. O jornalismo climático tem essa responsabilidade de fazer ressoar as vozes das comunidades, principalmente as mais afetadas pelas alterações climáticas. Mas também deixar o seu input profissional, com base na ciência e informações recolhidas no terreno para que os decisores adotem medidas mais ajustadas as necessidades das pessoas.

Centralizando, mais uma vez, a minha reflexão nos ganhos de 2024 e antes destacar o que anseio para o ano que se aproxima – 2025,  digo que 2024 foi um ano de muitos ganhos para mim enquanto jornalista climático. Contudo, o desafio se prende com o domínio da língua inglesa, pois o grosso dos acervos científicos estão disponíveis nesse idioma. Por outro lado, pertencendo a rede internacional de jornalistas, acesso a formações, fontes diversificadas e conferências promovidas ao nível internacional requerem um melhor domínio do inglês. Portanto, para 2025, a meta é apostar nesse aspecto que vai fortalecer/facilitar a minha participação nesses eventos e melhor elucidação do público nacional através dos trabalhos por mim produzidos. Confesso que já comecei a dar os primeiros passo para o efeito e que com o apoio do Programa Ação Climática tenho frequentado aulas de inglês para ultrapassar esse desafio.

Outra ambição que tenho e que tenciono materializar, no próximo ano, é impulsionar/ estabelecer contactos para que, anualmente, a RTC marque presença nas formações sobre as mudanças climáticas, Conferências das Partes e outros eventos relacionados (com participação rotativa dos jornalistas, cameraman e outros profissionais da comunicação social). A ideia é sensibilizar mais jornalistas a enveredarem pela área e, assim, criarmos uma linha editorial para o clima e fazermos o nosso papel social com mais afinco junto das comunidades, com blocos de noticias sobre o clima e ambiente, rubricas, programas e Grandes Reportagens de informação e formação sobre o tema.

Autoria

Nany Ariana Vaz

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