Podcast Clima e Meteorologia

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Neste episódio foram entrevistados o Professor Nilton Rosário, do Laboratório de Clima e de Poluição Atmosférica da Universidade Federal de São Paulo, o Meteorologista Carlos Moniz, do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG). 

Nilton, pode, pf, fazer uma breve apresentação do trabalho no Laboratório de Clima e de Poluição Atmosférica e relatar a sua experiência com mudanças climáticas  

O Laboratório de Clima e Poluição do Ar (LabCliP) faz parte do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Paulo, e é um dos laboratórios que dão suporte ao Programa de Pós-Graduação em Análise Ambiental Integrada (AAI). As pesquisas do LabClip estão focadas em avançar o conhecimento que temos dos processos climáticos, em particular os envolvendo a atmosfera e a sua interação com as superfícies continentais e oceânicas, e sobretudo compreender a influência que as alterações introduzidas pelas atividades humanas (mudança na cobertura e uso do solo e na composição atmosférica) exercem no clima.  

Para ser mais concreto, hoje vivemos em espaços (ex. cidades) caracterizados por condições climáticas, em grande parte, determinadas por mudanças antrópicas. O reconhecido e nocivo efeito ilha de calor, comum a várias cidades ao redor do mundo, é um produto das mudanças e substituição da cobertura natural do solo por estruturas e materiais urbanos. Por sua vez, os espaços urbanos, via emissão de gases e particulados, produzem uma composição atmosférica no seu entorno e além completamente diferente daquela de cenários naturais. As pesquisas em que estou envolvido procuram responder perguntas como “Qual o impacto dessa combinação, mudanças na superficie terrestre e na composição atmosférica, nos processos meteorológicos e climáticos? Como é que ela interfere nas interações entre a atmosfera e a superfície e quais são as implicações para a temperatura, a humidade e processos importantes como a formação de nuvens e, consequentemente, das chuvas?  

Podemos seguir o mesmo raciocínio quando pensamos na conversão em larga escala de áreas de floresta, que exercem um papel central na regulação climática regional e global, em grandes áreas agrícolas e de pecuária. Nesse contexto, a compreensão dos impactos do desmatamento da Floresta Amazónica é também um aspecto central nas pesquisas que desenvolvo em colaboração com outros colegas do laboratório.   

Carlos, podes retratar-nos a evolução das variáveis meteorológicas e as observações das mudanças climáticas. 

A nível global uma das principais variáveis onde se evidencia o efeito das mudanças climáticas é a temperatura, e Cabo Verde não é excepção, com uma clara tendência no aumento da temperatura média local em torno de 1ºC nas últimas décadas.  

Mas mais que na temperatura média, ainda é mais interessante o efeito das mudanças climáticas nos extremos, ou seja, nas temperaturas mínimas e máximas, nas quais se evidencia uma maior tendência no aumento das temperaturas mínimas, de cerca de 1.5ºC, resultado que aponta para noites e madrugadas mais quentes.  

E isto explica-se em muito porque à noite quando não temos mais o fator radiação solar, e o calor que é emitido pela terra tem tendência de escapar pela atmosfera, sendo que aqui entra o papel do gases de efeito de estufa que prendem esse calor ou energia aqui na Terra, fazendo aumentar as temperaturas mínimas locais, superando até o aumento da temperatura média.  

Além da temperatura é natural que também se evidenciem alterações em outras variáveis como a precipitação, onde a média territorial apresentou tendências de redução, com secas recorrentes. Por outro o número de dias com eventos de chuva com potencial para inundação (acima de 20 mm) aumentou em praticamente todas as estações analisadas.  

Para outros episódios de eventos extremos como ondas de calor e bruma seca, o resultado da análise aponta para uma tendência importante de aumento de número de dias associados a estes fenómenos,  afetando diretamente a vida e quotidiano da população local. 

Variação interanual da temperatura média, mínima e máxima do ar, de acordo com os dados de uma estação de referência do INMG.

Nilton, pode dizer-nos quais são as principais causas das mudanças climáticas, incluindo a influência das atividades humanas e dos fenómenos naturais? 

Mudanças climáticas naturais fazem parte da história do nosso planeta, que já passou por alterações naturais drásticas ao longo da sua evolução. E as razões por trás das mudanças ocorridas no passado são várias. Alterações na configuração da órbita e na inclinação do eixo do planeta em relação ao Sol, mudando a quantidade e a distribuição da energia solar disponível para a Terra, são reconhecidas por induzirem mudanças cíclicas no clima do planeta, produzindo as famosas eras glaciais e interglaciais.  

A civilização humana de modo geral tirou partido das condições relativamente estáveis do atual período interglacial em que vivemos, com temperaturas mais favoráveis e estáveis que se prolongaram.  

Mudanças climáticas naturais repentinas que ocorreram no passado associadas a erupções vulcânicas massivas podem ser também citadas como exemplos de mudanças climáticas naturais. Vale a pena ressaltar que mudanças climáticas naturais e as suas causas são muito bem estudas e objeto de monitorização. Por exemplo, hoje existem inúmeros sensores a bordo de satélites que seguem a energia que sai do Sol e chega no nosso planeta.  

Existem ainda dois fatos importantes a serem mencionados em relação às mudanças climáticas naturais, a humanidade e a sua estrutura social como conhecemos hoje não experimentou nenhuma mudança climática natural catastrófica. O que temos são casos de civilizações importantes no passado terem sucumbido diante de flutuações climáticas naturais que desestabilizaram as condições socioeconómicas que as mantinham, mas o planeta de modo geral não passou por um processo de mudança climática como o que vivenciamos atualmente. Reconhecidamente a mudança climática atual não tem fundamentos em processos naturais.  

Existem vários caminhos pelos quais podemos explicar o papel das atividades humanas na mudança climática global atual, mas vamos concentrar-nos em dois aspectos que certamente dominam o processo: as mudanças na cobertura do solo e na composição básica da atmosfera. A expansão das áreas urbano-industriais e das áreas destinadas às atividades da agropecuária produziu mudanças na superfície terrestre a uma escala nunca vista na história humana, com remoção de extensas áreas de cobertura vegetal natural. Isso mudou radicalmente as trocas de energia entre a superfície e a atmosfera produzindo, consequentemente, significativas alterações nas condições climáticas ao redor do mundo. Paralelamente à expansão da urbanização e dos espaços agrícolas, a revolução industrial introduziu a queima de combustíveis fósseis em larga escala como a principal fonte de energia para suprir as necessidades da sociedade. Como resultado, iniciou-se um processo gradual de acúmulo de gases de efeito estufa (GEE), especialmente o CO2, um subproduto da queima de combustíveis fósseis.  

Entre 1850 e 2020, a concentração do CO2 na atmosfera aumentou de 280 partes por milhão (ppm) para valores acima de 420 ppm, em menos de 200 anos. Enquanto isso, a temperatura média global aumentou mais de 1 grau Celsius. Alterações dessa magnitude, em tão curto tempo, não são observadas nos registos relacionados com as mudanças climáticas naturais. Era uma questão de tempo para as implicações do acúmulo do CO2 e outros GEE emitidos pelas nossas atividades aparecerem, pois, a ciência básica que explica os seus efeitos climáticos, como o aquecimento planetário, há muito havia sido estabelecida.  Os GEE presentes na atmosfera são eficientes em absorver a energia radiativa emitida pela superficie do nosso planeta, a razão de serem chamados gases de efeito estufa, essa retenção tem como resultado óbvio o aquecimento do planeta. Portanto, a mudança climática global em curso, cuja principal característica é o aquecimento global, tem a sua origem diretamente associada às atividades humanas, especialmente às emissões de CO2 pela queima de combustíveis fósseis, desflorestação e queima de biomassa em larga escala. 

Nilton, quais são os impactos imediatos e de longo prazo das mudanças climáticas a nível global e em Cabo Verde? 

Em termos globais, o impacto primário é o aumento da temperatura da atmosfera e dos oceanos. Esse fato já implica uma desestabilização do sistema climático visto que uma nova configuração da temperatura vai exigir que o planeta busque uma nova condição de equilíbrio. Naturalmente, neste processo, o sistema climático vai produzir respostas extremas como ondas de calor mais intensas, tempestades mais severas, secas extremas, entre outros extremos possíveis uma vez que existe um excesso de energia acumulado no planeta. Os impactos desses extremos são imediatos, e realmente ao redor do mundo tem-se observado um aumento nos eventos meteorológicos e climáticos extremos.  

O rápido aumento da temperatura global, associado a esses extremos, tem colocado uma enorme pressão nos ecossistemas terrestre e marinho, dificultando a sua gradual adaptação ao novo regime climático. Sabemos que, a despeito dos avanços tecnológicos, a sociedade ainda tem enorme dependência dos serviços ecossistémicos. Entretanto, não são apenas os sistemas naturais que estão em perigo, as nossas estruturas de produção alimentar e segurança hídrica também têm esse desafio de serem adaptadas às mudanças climáticas. As dificuldades têm sido vistas já com um aumento ligeiramente acima de 1 grau Celsius, o que deixa claro que cenários de aumento superiores a 2 graus têm tudo para serem catastróficos, daí a necessidade da classificação do contexto como emergência climática.  

Cabo Verde está sujeito a todos esses aspectos de degradação ambiental mencionados, sendo já observados na nossa realidade, transição para um regime climático mais quente (temperaturas subiram mais de 1 grau nas últimas cinco décadas em Cabo Verde) com significativo aumento na frequência e intensidade dos eventos extremos, como já identificado nos registros climatológicos do país, tanto em relação às ondas de calor como no caso dos extremos de chuvas.  Esses estressores ambientais certamente apresentam reflexos no tecido socioeconómico do país. Tanto a pesca como a agricultura dependem fortemente das condições climáticas e a imprevisibilidade gerada por um novo regime climático, marcado por extremos, aumenta a vulnerabilidade das comunidades que dependem dessas atividades e a sociedade caboverdiana de modo geral. As ameaças à integridade física das comunidades, especialmente as mais vulneráveis, certamente aumentou, e podem agravar, diante de cenários como os de excessos de calor e chuvas torrenciais de maior intensidade.  

Mesmo o setor do turismo, que de alguma forma beneficia do calor, corre sérios riscos visto o potencial de disrupções produzidas por tempestades tropicais mais intensas, e o desafio que temos nacionalmente em termos de segurança hídrica e energética. Turismo de massa em um ambiente mais quente demanda muita água, energia e uma forte logística de alimentos, aspectos que estão na mira dos efeitos das mudanças climáticas. Para além disso, o investimento na área do turismo em Cabo Verde está concentrado nas regiões costeiras, que representa um sério risco diante do avanço do nível do mar, e já tivemos exemplos do avanço de marés associado a tempestades tropicais com prejuízos importantes. A nossa condição de país insular e ainda em desenvolvimento nos coloca em uma situação mais vulnerável ainda, o que se estende à nossa biodiversidade única. 

Carlos: qual o papel do INMG a monitorizar esses impactos?  

O Instituto tem papel fundamental no acompanhamento dos impactos das mudanças climáticas, principalmente nas consequências que já veem sido observadas em termos de eventos extremos, tais como episódios de ondas de calor, bruma seca e depressões tropicais que trazem chuvas torrenciais, inundações, ventos fortes e agitação marítima. O Instituto tem o dever de acompanhar e elaborar a previsão quando temos situações de eventos extremos e transmitir a informação de forma clara, atempada para a população e meios de comunicação, para que possamos mitigar a perda de danos matérias e para que não se registam perdas de vidas humanas.  

Mais que isso, o Instituto é atualmente o Ponto Focal para as Alterações Climáticas de Cabo Verde, junto da Convenção Quadro Sobre as Mudanças Climáticas (UNFCCC), fazendo a ponte entre essa organização e o país, sobre todo o processo das negociações e das decisões adoptadas. O INMG é também o Ponto Focal do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC), um órgão técnico científico da Convenção que tem como objetivo principal sintetizar e divulgar o conhecimento mais avançado sobre as mudanças climáticas que hoje afetam o mundo, especificamente, o aquecimento global, apontando suas causas, efeitos e riscos para a humanidade e o meio ambiente, e sugerindo maneiras de combater os problemas.  

Como Ponto Focal do Fundo Adaptação, o INMG acompanha todo o processo de financiamento de fundos internacionais para a adaptação às mudanças climáticas, e sua implementação no país. Além das competências acima referenciadas, o Instituto Nacional de Meteorologia, participa na elaboração de vários documentos estratégicos do país sobre as mudanças climáticas e sustentabilidade ambiental, tais como NPA (Plano Nacional de Adaptação, visão 2026), NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada, para o Acordo de Paris, visão 2030), Roteiro para a implementação do Acordo de Paris em Cabo Verde. 

Nilton, olhando para o futuro, quais são os cenários de que dispomos e quais as projeções para as principais variáveis climáticas como a temperatura do ar e o mar e precipitação e sobre o nível médio do mar? 

As projeções futuras do clima são articulados em geral a partir de três principais cenários de desenvolvimento económico, o ideal, baseado em reduções drásticas das emissões de GEE e ambiciosas práticas de desenvolvimento sustentável e de transição energética para matrizes mais limpas, que nos levaria à manutenção do aumento da temperatura global abaixo de 2,0 graus Celsius em 2100, outro cenário intermediário caracterizado emprego de uma série de tecnologias e estratégias para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em que o aumento ficaria entre 2,0 e 3,7 graus e, por fim, o mais crítico, em que as coisas permanecem como foram no passado, isto é, um desenvolvimento baseado em um consumo irrestrito de combustíveis fosseis sem ambições em relação a práticas sustentáveis,  o que nos levaria a um aumento da temperatura média global acima de 5,0 graus Celsius.  

À semelhança do que se observa em outras partes do mundo, a temperatura do ar em Cabo Verde, tanto a média como os extremos (máxima e mínima), apresenta tendência de aumento importante e consistente com o cenário mais crítico, aumento acima de 1 grau em poucas décadas. Portanto, ainda que sejam adotadas medidas extremamente restritivas em relação as emissões, por meio de um desenvolvimento alinhado com boas práticas como a transição energética e sustentável, dificilmente o planeta manterá um aquecimento abaixo de 2,0 graus Celsius em 2100. Por outro lado, caso a humanidade insista na dependência com a queima de combustíveis fosseis, sem qualquer ambição sustentável e com práticas agressivas de desenvolvimento, as temperaturas em Cabo Verde, sendo conservador aqui, podem alcançar um aumento de até 5,0 graus Celsius em 2100.  

Certamente a temperatura do oceano ao nosso redor estará em condições mais do que suficientes para alimentar tempestades tropicais severas e certamente furacões. Ademais, a estratificação oceânica resultante do forte aquecimento colocará desafios importantes para circulação vertical dos nutrientes marinhos, o que impactará a própria biodiversidade marina, fonte de recursos importante para a nossa realidade.  Seja qual for o cenário, a projeção é que as chuvas em Cabo Verde sofrem redução. Obviamente que no cenário mais crítico essas tendências são reforçadas, quando se projeta reduções da ordem de 30% na precipitação anual. A chuva, já irregular, tende a ficar mais irregular e com secas mais prolongadas, segundo as projeções dos modelos climáticos. Precipitação é uma das variáveis mais desafiadoras em relação às projeções climáticas, mas consistentemente os modelos indicam persistência de cenários de seca.  

A expansão térmica dos oceanos levará ao aumento do nível do mar com implicações catastróficas para as regiões costeiras de vários países. Em Cabo Verde as projeções apontam para aumento no nível médio do mar entre 40 e 100 cm até 2100, o que coloca em riscos várias regiões costeiras do país. Inúmeros processos biológicos, marinhos e terrestres, têm o seu funcionamento regulado pela temperatura. Em Cabo Verde temos o clássico exemplo da reprodução das tartarugas marinhas. Com aquecimento, tais processos podem ser severamente afetados, desencadeando desequilíbrios ambientais em vários nichos ecológicos, o que certamente afetará os serviços ambientais dos quais dependemos. A acelerada transição nos padrões climáticos colocará dificuldades para a adaptação de várias espécies vivas. Um planeta mais quente representa excesso de energia acumulado no meio físico, o que cria condições propicias para extremos climáticos, tempestades mais severas, secas mais intensas entre outros. Esses resultados já vêm sendo observados, e à medida que o planeta segue aquecendo mais intenso e frequente se tornarão os extremos. Em Cabo Verde esperamos observar tendências similares às observadas à escala global. Porém, novamente, a condição de Estado Insular em Desenvolvimento, com sérios desafios para adaptação, coloca-nos numa condição de alta vulnerabilidade climática, que será extremamente agravada caso a humanidade persistir no trajeto do cenário de desenvolvimento socioeconômico mais crítico, isto é, o que nos coloca na rota de um aumento acima de 5,0 graus Celsius em relação à temperatura média do planeta. 

Carlos, que caminhos podemos seguir para fazermos face a esses impactos e nos adaptarmos às mudanças? 

Como um país Saheliano e um pequeno Estado Insolar, Cabo Verde é extremamente vulnerável às mudanças climáticas, e há muito que lida com à imprevisibilidade do seu clima hostil, mas tem-se destacado pela sua boa governança, grau de desenvolvimento e ampla integração das questões de igualdade nas suas políticas e práticas, não obstante a erosão que o clima agreste provoca no seu ambiente, na sua sociedade e na sua economia. A escassez e a irregularidade das chuvas provocam secas cíclicas, o défice hídrico permanente e a desertificação acentuada, a limitação do acesso à água e geomorfologia de muitas das ilhas habitadas, representam riscos significativos para o sector agrícola e segurança alimentar, provocando efeitos devastadores nos frágeis ecossistemas do país. 

Mitigação e adaptação têm sido dois conceitos-chave no que diz respeito a procura de solução para as mudanças climáticas, onde mitigação é procurar reduzir as emissões dos gases de efeitos de estufa das atividades e procurar soluções de sustentabilidade, sendo que cabo verde é um pais que pouco emite gases de efeito de estuda e tem uma baixa contribuição cerca de 0,002%, ainda assim é importante Cabo Verde apostar na transição energética e energia limpas e verdes para deixarmos a dependência dos derivados do petróleo, que também teria efeito na economia local.  

Mas realmente para Cabo Verde, um país insular, a questão da adaptação em termos de resiliência climática é o conceito fundamental a ser implementado, no que diz respeito a deixarmos práticas que já não são mais sustentáveis e procurar adaptar para que as consequências dos efeitos de alterações climáticas sejam minimizadas. A nível local os políticos, as instituições e outras entidades têm que procurar dar repostas a estes problemas tais como reestruturação urbana para combater inundações, ondas de calor, procurar soluções agrícolas como dessalinização da água do mar e apostar na sensibilização e literacia deste fenómeno mundial que são as mudanças climáticas. A nível global Cabo Verde já deu passos significativos nesse sentido, integrando a questão da resiliência climática na sua Ambição 2020-2030, ratificou à Convenção Quadro da Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, o Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris, submeteu três Comunicações Nacionais e os respectivos Inventários de Gases de Efeito de Estufa, duas Contribuições Nacionalmente Determinada, com planos muito ambiciosos de mitigação e redução das emissões de GEE, em 2021 submeteu o primeiro Plano Nacional de Adaptação (NAP), num esforço e intuito de promover a mudança transformativa em todo o processo de planeamento e orçamentação e também nas práticas ambientais, sociais e económicas correntes, e de aumentar a sua capacidade para absorver os choques climáticos, que se esperam ainda mais intensos e frequentes. 

Nilton, que conselhos daria aos nossos ouvintes para se adaptarem aos impactes das mudanças climáticas no seu dia a dia? 

Primeiro, procurem estar bem-informados a respeito das mudanças climáticas, suas causas e consequências. Procurem fontes de informação oficiais e confiáveis, evita espalhar Fake News: a emergência climática é uma realidade e muitas vidas dependem de as podermos enfrentar. Quanto maior o conhecimento a respeito mais capacitadas estarão as comunidades.  

Auxiliem aqueles com maiores necessidades, especialmente em cenários de extremos meteorológicos e climáticos, visto que já estamos a vivenciar as consequências do aquecimento global. Adote práticas sustentáveis, por exemplo, evite o uso de veículos a base de combustíveis fosseis quando existe alternativa mais sustentável, não desperdice água e alimentos. A produção da água assim como a logística envolvendo a produção e transporte de alimentos também contribui para as emissões de GEE, portanto, para o agravamento do aquecimento global.  Envolvam-se com as vossas comunidades na identificação de soluções locais e naturais para os desafios postos pelas mudanças climáticas, preservem as áreas verdes, contribuam para a sua expansão pois estas têm papel fundamental na mitigação dos efeitos das ondas de calor e nos processos de deslizamento de encostas durante eventos extremos de chuva e na preservação da nossa biodiversidade. Como diria Mahatma Gandhi, sejam a mudança que querem ver no mundo. Só temos este planeta, ele oferece tudo o que precisamos, vamos cuidar para que assim permaneça, generoso também com as futuras gerações. 

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Autoria

Niton do Rosário,
LabCliP

Carlos Moniz,
INMG

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