Num mundo onde os impactos das mudanças climáticas são cada vez mais visíveis, os jovens estão surgindo como líderes e defensores fundamentais na luta por um futuro sustentável. Segundo a ONU, cerca de 80% da população jovem global está preocupada com as mudanças climáticas, pois vê nisso uma ameaça direta ao seu futuro. Muitos desses jovens estão a agir para fazer a diferença, trazendo novas perspetivas, energia e urgência, frequentemente ausentes nas discussões tradicionais. Estão a liderar campanhas para mobilizar comunidades e pressionar os governos a adotarem políticas ambientais mais rigorosas.

A colaboração internacional entre jovens ativistas é outra força poderosa. Movimentos como Fridays for Future, iniciado por Greta Thunberg, mostram como a solidariedade e a ação coletiva podem gerar mudanças significativas. Essas redes internacionais facilitam a troca de ideias, estratégias e apoio mútuo, fortalecendo a luta global contra a crise climática.

Neste contexto, destacamos três jovens líderes notáveis: Joel Almeida, Verónica Choconesa e Ilda Elisa, que estão a fazer a diferença em São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique, respetivamente. Estes jovens estiveram presentes na Academia InfantoJuvenil para a Ação Climática, realizada na Ilha do Maio, de 22 a 26 de julho de 2024, onde falaram sobre a importância da liderança e da advocacia climática jovem.

Iniciativas Comunitárias em São Tomé e Príncipe: Joel Almeida

Joel está a desempenhar um papel fundamental na ação climática em São Tomé e Príncipe. Ele apoiou a constituição de Comités Juvenis e Regionais, formados por jovens e adolescentes, com forte presença feminina. Esses comités atuam para levar as questões climáticas ao governo e promover mudanças nas comunidades através de campanhas e sessões de trabalho. Além disso, Joel também deu entrevistas e forneceu formações aos jovens desses comités.

Recentemente, ele apoiou a realização de uma sessão através de uma parceria entre UNICEF, PNUD e outros parceiros governamentais, que reuniu cerca de 80 jovens e adolescentes para discutir género, liderança, comunicação, políticas ambientais e climáticas. A sessão de trabalho terminou com a entrega de fundos para implementação de plano de ação climática a nível regional. “Este evento foi um marco,” comentou Joel. “Os jovens têm um papel essencial em desenvolver soluções sustentáveis.”

São Tomé e Príncipe tem-se destacado como Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO, refletindo o seu compromisso com a sustentabilidade. Joel observa que, apesar da baixa emissão de gases de efeito estufa, o país enfrenta desafios climáticos consideráveis. “Devemos envolver todos na busca de soluções globais,” afirma.

Entre as iniciativas locais, estão vários projetos como a produção de carvão ecológico, o uso de resíduos de bananeira para produção de produtos biodegradáveis, vassouras a partir de garrafas de plástico, entre outros. Joel também apoia a criação de campanhas digitais para envolver mais jovens e promover práticas sustentáveis.

“Trabalhar com esses jovens é gratificante,” conclui Joel. “Estamos a formar os líderes de amanhã e comprometidos em fazer de São Tomé e Príncipe um exemplo de sustentabilidade.”

Inovação Energética em Angola: Verónica Choconesa

Verónica está à frente da inovação climática em Angola, liderando a transição para o hidrogénio verde com sua Startup Nzolani Renewable. Ela acredita na diversificação da economia angolana, que atualmente depende fortemente do petróleo, para enfrentar as mudanças climáticas e promover um desenvolvimento sustentável.

“Estamos a enfrentar grandes desafios, desde a falta de conhecimento sobre hidrogénio verde até a resistência cultural a mudanças,” diz Verónica. “Mas vejo as parcerias internacionais e as iniciativas multilaterais como fundamentais para avançarmos nas energias renováveis em África.”

Verónica também esteve presente na COP 28, onde destacou a importância da tecnologia do hidrogénio verde e discutiu estratégias para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. “A África não precisa se tornar renovável; a África já é renovável. O verdadeiro papel da inovação vem de nosso continente e deve ser reconhecido globalmente,” afirma.

Ela destaca que, apesar das dificuldades, Angola está a progredir na transição para energias renováveis, demonstrando compromisso e liderança no combate às mudanças climáticas. “Estamos a dar passos significativos para um futuro mais sustentável,” conclui Verónica.

Ativismo Comunitário em Moçambique: Ilda Elisa

Ilda, membro da Plataforma Juvenil para Ação Climática em Moçambique (YCAC – MOZ), acredita que os jovens desempenham um papel importante na melhoria do meio ambiente. Num país onde a maioria da população é jovem, Ilda destaca a importância do ativismo e da advocacia para influenciar políticas e promover mudanças significativas. A falta de experiência é um grande desafio, mas o apoio de organizações como a Save the Children e a UNICEF tem sido fundamental para transformar ideias em ação.

“Trabalhamos para conscientizar em colaboração com o governo,” disse Ilda. “Recentemente, o Parque Nacional das Quirimbas foi declarado Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO, um reconhecimento que é um motivo de orgulho para o nosso país e um passo importante para a conservação. Este estatuto não só valoriza a riqueza ambiental da nossa região, como também reforça o nosso compromisso com a proteção da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável. Soluções baseadas na comunidade são essenciais para enfrentar desafios climáticos como ciclones tropicais, inundações e secas. Consultar as comunidades locais garante o sucesso das soluções e minimiza impactos negativos.”, afirmou Ilda ao concluir sua declaração.

Conclusão

Joel, Verónica e Ilda demonstram como a liderança jovem está a transformar a ação climática nos seus países e regiões. As suas iniciativas destacam a importância da inovação, da colaboração e do envolvimento comunitário na luta contra as mudanças climáticas. Através de suas ações, eles inspiram uma nova geração a tomar medidas decisivas para um futuro mais sustentável. Esses jovens líderes mostram que, embora a luta contra as mudanças climáticas seja global, as soluções começam a nível local e com a participação de todos.

“Não se trata de escolher entre economia e o meio ambiente. É sobre garantir que nossos filhos possam respirar ar puro e beber água limpa, em vez de enfrentar um futuro cheio de catástrofes. Ignorar essa realidade é escolher a destruição. Precisamos agir AGORA, como se a nossa própria casa estivesse pegando fogo, antes que seja tarde demais!” – Anilton Baptista

Autoria

Anilton Baptista,
Deputado Infanto Juvenil
Escola Secundária Pedro Verona Pires, Fogo – São Filipe

Referências

Joel Almeida,
Agente da Ligação da Juventude e Gênero para Ação Climática, PNUD, São Tomé e Príncipe

Verónica Choconesa,
Engenheira de Perfuração de Poços de Petróleo e Gás

Ilda Elisa,
Membro da Plataforma Juvenil para a Ação Climática (YCAC – MOZ)