Newsletter 4 | Agosto 2024 | Naima Gomes e Miccole Miranda

Da Voz ao Ato: A Jornada do Parlamento InfantoJuvenil à Academia Infanto-juvenil

O Parlamento InfantoJuvenil de Cabo Verde, realizado de 17 a 20 de novembro de 2023, foi um marco significativo na participação dos jovens na política e na formulação de políticas públicas“, nomeadamente sobre a ação climática e os direitos da criança. Com o lema “VEZES E VOZES”, o evento serviu como uma plataforma para que crianças e adolescentes expressassem suas preocupações e propusessem soluções para os desafios enfrentados por Cabo Verde, especialmente no que diz respeito às mudanças climáticas e seus impactos sobre seus direitos e futuro.

Um Início Promissor

Durante o Parlamento Infanto-juvenil, os jovens deputados demonstraram um notável engajamento ao discutir e redigir um manifesto que ressaltava as preocupações com as mudanças climáticas e os direitos das crianças e adolescentes. Este manifesto foi um alerta sobre como as mudanças climáticas estão moldando o presente e o futuro do país, e como as políticas precisam se adaptar para proteger e promover os direitos dos jovens.

No entanto, a transformação dessas palavras em ações concretas revelou-se mais desafiadora do que muitos esperavam. Seis meses se passaram até que o manifesto fosse formalmente entregue ao Ministro da Agricultura e Ambiente de Cabo Verde, em 30 de maio de 2024. Essa demora inexplicável causou perplexidade e frustração entre muitos participantes. Afinal, se os jovens são frequentemente considerados o “futuro do país”, espera-se que suas vozes sejam tratadas com a urgência e a seriedade que merecem.

Após a entrega do manifesto, as mudanças esperadas foram lentas em se concretizar. A falta de informação sobre a implementação concreta das propostas gerou desilusão entre os jovens envolvidos, que esperavam ver mudanças reais e tangíveis como resultado do seu trabalho.

Academia InfantoJuvenil: Uma Nova Oportunidade

A Academia InfantoJuvenil, realizada na ilha de Maio de 22 a 26 de julho, na Escola Secundária Horace Silver, representou uma nova oportunidade para avançar na luta contra as mudanças climáticas. O evento proporcionou um espaço para continuar o trabalho iniciado no Parlamento, oferecendo uma oportunidade para discutir e desenvolver projetos com o objetivo de mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Os testemunhos de alguns dos jovens envolvidos refletem uma diversidade de sentimentos em relação ao progresso e às ações subsequentes:

Teresa Garcia observou: “A implementação do manifesto não foi muito sentida, mas, por outro lado, o Estado esteve presente na Academia (Ministério do Ambiente e Educação).” A presença do Governo foi um ponto positivo, mas a falta de financiamento e informação sobre mudanças tangíveis na implementação deixou uma sensação de incompletude.

• Laura Andrade afirmou: “Não houve mudanças, ou se houve, não foram sentidas. É necessário fazer mais para alcançar e comunicar os resultados desejados e alcançados.” Para ela, a falta de progresso visível é uma indicação clara de que mais trabalho e compromisso são necessários para transformar as propostas em resultados reais.

• Mohamadu Sanden comentou: “Houve um workshop sobre mudanças climáticas em que profissionais de comunicação participaram para transmitir informações sobre o clima de forma eficaz, o que chamamos de sensibilização.” Embora a sensibilização seja um passo positivo, ele percebe que a transformação das propostas em ações práticas ainda está em andamento.

• Igor Tavares refletiu sobre o lema “VEZES E VOZES”: “Houve uma melhoria, mas sempre há espaço para melhorar. Por exemplo, se houvesse mais Parlamentos InfantoJuvenis ao longo do ano.” Para ele, o fato de o Parlamento InfantoJuvenil ocorrer apenas uma vez ao ano limita as oportunidades para os jovens influenciarem as políticas de forma contínua.

• Dâmaris Tavares, presidente do Parlamento InfantoJuvenil 2023, ofereceu uma visão valiosa sobre o progresso desde o evento: “Quanto à implementação do manifesto, algumas soluções apresentadas pelos deputados, embora de forma tímida, já estavam sendo feitas e continuam sendo feitas. No entanto, precisamos intensificar os esforços e ampliar essas ações. Uma solução que se destacou foi a inclusão das crianças, adolescentes e jovens na formulação de políticas e decisões climáticas, como demonstrado pela Academia InfantoJuvenil e pela entrega do manifesto ao ministro.”

Considerações Finais

A jornada do Parlamento InfantoJuvenil à Academia InfantoJuvenil da Ação Climática evidenciou tanto o potencial quanto as limitações do engajamento jovem na política. O lema “VEZES E VOZES” permanece relevante, mas os desafios enfrentados demonstram que, embora as vozes dos jovens sejam ouvidas, a transformação dessas vozes em ações concretas requer um esforço contínuo e um compromisso genuíno de todos os envolvidos. A jornada está longe de ser concluída, e é imperativo que todas as partes interessadas, desde os jovens até os responsáveis pela implementação das políticas, continuem trabalhando juntos para garantir que as promessas sejam cumpridas e que as necessidades e preocupações dos jovens sejam devidamente atendidas. Saudamos a criação do Fórum do Cidadão e do Clima e vemos aqui uma oportunidade para nos podermos envolver mais na ação climática.

Autoria

Naíma Gomes,
Aluna da Academia InfantoJuvenil para a Ação Climática

Miccole Miranda,
Aluno da Academia InfantoJuvenil para a Ação Climática

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