Jornalistas engajados na acção climática. Trabalho em rede e auto-capacitação têm sido as principais apostas desse profissionais que assumem a cobertura de fóruns nacionais, internacionais e outros eventos sobre as mudanças climáticas, como forma de assegurar o direito a informação e liberdade de expressão dos cientistas, ONG, comunidades vulneráveis e/ou mais impactadas pelo aquecimento global.
“O papel da sociedade civil é essencial para garantir que todas as vozes tenham a oportunidade de ser ouvidas e para que todos nós cumpramos as promessas que fazemos”. A constatação é do Secretário Executivo da Organização das Nações Unidas – ONU para Mudanças Climáticas, Simon Stiell aquando da abertura do 60º Órgãos Subsidiários (SB60), Reuniões Climáticas da ONU que tive lugar entre 3 e 13 de junho de 2024 no Centro das Conferencias Mundiais de Bonn, Alemanha.
SB60 tem como propósito debater e estimular o avanço de questões importantes e preparar as decisões a serem tomadas na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – COP29, que este ano vai ser realizada em Baku, Azerbaijão, no próximo mês de novembro (entre os dias 11 a 22 do referido mês). Representantes de mais de 200 países participaram no SB60, inclusive profissionais dos media. Infelizmente, Cabo Verde não teve nenhuma representação mediática no citado evento e, é com base nas declarações do Secretario Executivo da ONU para Mudanças Climáticas que, sublinhamos, neste artigo, a importância da participação de jornalistas e demais media em fórum do género. Principalmente para que “as vozes das mulheres, dos povos indígenas e outras comunidades impactadas pelas alterações climáticas sejam acudidas” diz o jornalista brasileiro, Angelo Madson Barbosa.

O jornalista brasileiro avança que as mulheres indígenas, as que habitam na região amazónica e comunidades tradicionais são as que mais sofrem com o aumento da temperatura e, por esta razão devem participar activamente, através das organizações da sociedade civil, em todas as conferências internacionais sobre a acção climática e, inclusive nos fórum decisivos e, assim expressarem as suas preocupações a apontarem soluções. Angelo Madson Barbosa tem marcado presença em várias conferências sobre as mudanças climáticas e, por isso, defende a envolvência dos jornalistas nesses eventos como forma de levarem, para todo o mundo, a voz daqueles que, segundo o mesmo, mais prejudicados estão com as crises climáticas.

Para a jornalista sénior da Rádio de Televisão Cabo-verdiana – RTC, Joana Lopes profissional com mais de 20 anos de experiência em cobertura das questões ambientais e climáticas e, igualmente uma das primeiras jornalistas do arquipélago cabo-verdiano a fazer a cobertura de uma Conferencia das Partes (COP26 em novembro de 2021 em Glasgow, Reino Unido), a “presença de jornalistas em conferências sobre o clima e ambiente não se resume, a mera cobertura e divulgação desses eventos em si, mas também permite enriquecer a agenda informativa nas redacções, muitas vezes pobres em assuntos que versam o ambiente e as alterações climáticas”. Trazer para a agenda diária das redacções, temas sobre as acções climáticas e formas de mitigação do aquecimento global significa dar vez e voz, as comunidades afectadas pelos impactos desse fenómeno, aos especialistas e cientistas da área. A inclusão de jornalistas, enquanto atores sociais e formadores da massa critica, em fóruns climáticos e ambientais vai ao encontro do discurso e recomendações do Secretário Executivo da ONU para Mudanças Climáticas, Simon Stiell na abertura do SB60 realizada no passado dia 3 de Junho em Bonn, na Alemanha. Logo, a cobertura mediática é um elemento chave, tanto para a garantia da pluralidade na informação difundida nos media, quanto para o cumprimento dos acordos e metas assumidas pelos países.

É, neste sentido que a jornalista ambiental francesa, Noélie Coudurier revela ter sido contratada pela Agência Francesa de Desenvolvimento dos Media – CFI, justamente para acompanhar cinco jornalistas africanos (dois lusófonos e três francófonos), beneficiários da Projecto Terra África desenvolvido pela citada agência durante a COP28, que decorreu entre 30 de novembro e 11 de dezembro de 2023 no Dubai. Terra África objectiva capacitar e impulsionar a estabilização jornalística na área ambiental. Noélie Coudurier teve como missão, no decurso da COP28, auxiliar os colegas jornalistas a ajustarem a linguagem jornalística aos termos mais científicos da área climática e ambiental, assim como, a manterem o foco nas suas reportagens, visto que a COP é intensa e diversificada em termos de informação e fontes. A jornalista especializada em questões ambientais e climáticas, Noélie Coudurier assegura que uma boa cobertura mediática pressupõe maior capacitação dos profissionais dos media, jornalistas particularmente.

O jornalista costamarfinês, Ghislaisn Coulibaly foi um dos beneficiários do Projecto Terra África da CFI. Projecto esse que lhe possibilitou participar, pela primeira vez, no ano passado numa COP. Antes de partir para Dubai, Ghislaisn Coulibaly passou por algumas acções de capacitação e, ainda nos revelou que o facto de Costa do Marfim enfrenta muitos problemas, como a desflorestação, a erosão costeira, a poluição e outros problemas o motivou “em primeiro lugar, em ter uma boa formação sobre questões ambientais, participando em várias reuniões, fóruns e eventos importantes”. O jornalista costamarfinês frequentou, também num curso de inglês (de 27 de julho a 5 de outubro de 2023) promovido pela Embaixada dos Embaixada dos EUA em Abidjan, para diminuir a barreira linguística. Ainda, durante o seu processo de preparação para a cobertura da COP28 no Dubai, Ghislaisn Coulibaly fez uma formação voluntária com a equipa de produção de “C’est Pasduvent”, o programa ambiental da Radio France Internationale – RFI. A jornalista francesa, Anne Cécile Bras é a criadora e apresentadora do programa de e que esteve na Costa do Marfim de 9 a 15 de março de 2023 para gravar para gravar vários segmentos do magazine.

A formação contínua dos jornalistas em questões climáticas e ambientais é fundamental para uma melhor cobertura de fóruns sobre a temática, principalmente para melhor esclarecimento publico. A jornalista ambiental francesa, Joélie Coudurier acredita que quanto mais “sólidos” os jornalistas forem nestas questões, mais conseguirão dominar a desinformação, o “greenwashing” ou se quisermos “maquilhagem verde”, uma prática de camuflar, mentir ou omitir informações sobre os reais impactos das actividades de uma empresa no meio ambiente. É, justamente para conferir melhor qualidade nos trabalhos jornalísticos relativos a emergência ambiental e climática que jornalistas em todo mundo têm organizado e trabalhado em rede trocando experiências e informações sobre a acção climática e aquecimento global.
Autoria
Nany Ariana Vaz,
Jornalista
Locutora
Técnica Operadora de Som
Programadora e Produtora de Conteúdos Radiofónicos
Formadora em Comunicação e Relações Interpessoais
Especialista em Integração Regional Africana (Comunicação)
Coordenadora/Produtora de Eventos
Cantora Independente e Intérprete